quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Imortalidade da Alma

Curso: Espiritismo e Evangelho II
TEMA: Imortalidade da Alma


"E disse [o ladrão] a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso" (Lucas 23.42,43).


OBJETIVOS DO TEMA: 

Discutir sobre o fenômeno da Imortalidade da Alma, tendo como base uma análise filosófica e comprovações científicas.

1 – Alma e espírito
Q. 134. Que é a alma?
“Um Espírito encarnado.”
a) — Que era a alma antes de se unir ao corpo?
“Espírito.”
b) — As almas e os Espíritos são, portanto, idênticos, a mesma coisa?
“Sim, as almas não são senão os Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível, os quais temporariamente revestem um invólucro carnal para se purificarem e esclarecerem.” (O Livro dos Espíritos – Allan Kardec)
2 – Imortalidade da Alma
a) Bases evangélicas

e o pó volte para a terra como o era, e o espírito volte a Deus que o deu.
(Eclesiastes 12:7)

Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, a Tiago e a João, irmão deste, e os conduziu à parte a um alto monte; e foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele.
(Matheus, Cap. 17)

Jesus, clamando com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isso, expirou.
(Lucas 23:46)

Apedrejavam, pois, a Estêvão que orando, dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito.
(Atos 7:59)

b) Análise da Doutrina Espírita
Há no homem um princípio inteligente a que se chama ALMA ou ESPÍRITO, independente da maté­ria, e que lhe dá o senso moral e a faculdade de pensar.
Se o pensamento fosse propriedade da matéria te­ríamos a matéria bruta a pensar. Ora, como ninguém nunca viu a matéria inerte dotada de faculdades inte­lectuais; como, quando o corpo morre, não mais pensa, forçoso é se conclua que a alma independe da matéria e que os orgãos não passam de instrumentos com que o homem manifesta seu pensamento.
As doutrinas materialistas são incompatíveis com a moral e subversivas da ordem social. Se, conforme pretendem os materialistas, o pensa­mento fosse segregado pelo cérebro, como a bílis o é pelo fígado, seguir-se-ia que, morto o corpo, a inteligên­cia do homem e todas as suas qualidades morais re­cairiam no nada; que os nossos parentes, os amigos e todos quantos houvessem tido a nossa afeição estariam irremissívelmente perdidos; que o homem de gênio care­ceria de mérito, pois que somente ao acaso da sua orga­nização seria devedor das faculdades transcendentes que revela; que entre o imbecil e o sábio apenas haveria a diferença de mais ou menos substância cerebral.
As conseqüências dessa doutrina seriam que, nada podendo esperar para depois desta vida, nenhum inte­resse teria o homem em fazer o bem; que muito natural seria procurasse ele a maior soma possível de gozos, mesmo à custa dos outros; que o sentimento mais racio­nal seria o egoísmo; que aquele que fosse persistentemente desgraçado na Terra, nada de melhor teria a fazer, do que se matar, porqüanto, destinado a mergulhar no nada, isso não lhe seria nem pior, nem melhor, ao passo que de tal forma abreviaria seus sofrimentos.
A doutrina ‘materialista é, pois, a sanção do egoísmo, origem de todos os vícios; a negação da caridade.
Provam a existência da alma os atos inteligentes do homem, por isso que eles hão de ter uma causa inteli­gente e não uma causa inerte. Que ela independe da matéria está demonstrado de modo patente pelos fenô­menos espíritas que a mostram agindo por si mesma e o está, sobretudo, pelo seu insulamento durante a vida, o que lhe permite manifestar-se, pensar e agir sem o corpo.
O Espiritismo pode isolar os dois elementos constitutivos do homem: o Espírito e a matéria, a alma e o corpo, sepa­rá-los e reuni-los à vontade, o que não deixa dúvida sobre a independência de uma e outro.
A alma do homem sobrevive ao corpo e conserva a sua individualidade após a morte deste.
Se a alma não sobrevivesse ao corpo, o homem só teria por perspectiva o nada, do mesmo modo que se a faculdade de pensar fosse produto da matéria. Se não conservasse a sua individualidade, isto é, se se dissol­vesse no reservatório comum chamado o grande todo, como as gotas dágua no Oceano, seria igualmente, para o homem, o nada do pensamento e as conseqüências seriam absolutamente as mesmas que se não houvesse alma.
A sobrevivência desta à morte do corpo está pro­vada de maneira irrecusável e até certo ponto palpável, pelas comunicações espíritas. Sua individualidade é de­monstrada pelo caráter e pelas qualidades peculiares a  cada um. Essas qualidades, que distinguem umas das outras as almas, lhes constituem a personalidade. Se as almas se confundissem num todo comum, uniformes seriam as suas qualidades.
Além dessas provas inteligentes, há também a prova material das manifestações visuais, ou aparições, tão freqüentes e autênticas, que não é lícito pô-las em dúvida.


3 – PROVAS DA IMORTALIDADE DA ALMA
O Homem é, essencialmente, um Espírito imortal, que não desaparece, portanto, com a morte orgânica, com o perecimento do corpo físico. Entretanto, milhares de criaturas não acreditam na imortalidade da alma e a Ciên­cia, apesar de todas as provas evidentes e experimentais a respeito, continua afirmando: "Nada encontramos que justifique a crença na sobrevivência. É uma hipótese sim­pática e agradável, mas improvada."
Com o advento do Espiritismo, o que era uma ques­tão de fé passou a ser um fato corroborado pela experi­mentação e observação, embora não seja nenhum absurdo admitir a imortalidade do Espírito humano por força da fé raciocinada.
A imortalidade da alma resulta comprovada pelo la­boratório mediúnico do Espiritismo, cujas sessões práti­cas trazem até nós os chamados mortos, nada mais nada menos que criaturas humanas desencarnadas, todavia perfeitamente vivas, com todas as características que as distinguiam, neste mundo, quando aqui se achavam em corpos somáticos.
Fator importante, princípio elementar de toda dou­trina espiritualista, o Espiritismo comprova, sem dogmas, sem mistérios, racionalmente, a sobrevivência do Espírito, verdade inalienável graças à qual constrói o monolítico sistema com que explica, até onde o permitem, as limi­tações da inteligência humana, o Mundo em que vivemos e o mecanismo da sua evolução.
Cientistas dos mais notáveis, entre espíritas e não espíritas, realizaram experiências cercadas de todos os cuidados necessários à confirmação dos fenômenos e atestaram, corajosamente, sua legitimidade e, por conse­guinte, a imortalidade do Espírito. Dentre eles citamos : Charles Richet, Wil­liam Crookes, Frederíco ZöIlner, Camilo Flammarion, César Lombroso, Ernesto Bozzano, Frederico Myers, Wil­liam James, CromweIl Varley, Alexandre Aksakof, Paul Gibier, William Barret, Oliver Lodge, James Hyslop, Wil­líam Crawford, Frank Podmore, Roberto Hare, August de Morgan, J. MaxweIl, Eugene Osty, Gustave Geley, Gabriel Delanne, Albert De Rochas, Enrico MorseIli e muitos outros. 

Numerosos, como sabemos, os fenômenos mediúnicos comprovam, a seu modo, a sobrevivência do Espírito, mas o que torna a evidência maior, se assim podemos dizer, é o da ectoplasmia[1], ou seja, o fenômeno de efeitos físicos dito de materialização.







 







[1] Ectoplasma: · 1. s. m. Biologia: Película externa do citoplasma na célula. · 2. Espiritismo....: Plasma de origem psíquica que emana de certos médiuns.


O ectoplasma está situado entre a matéria densa e a matéria perispirítica, assim como um produto de emanações da alma pelo filtro do corpo, e é recurso peculiar não somente ao homem, mas a todas as formas da Natureza. Em certas organizações fisiológicas especiais da raça humana, comparece em maiores proporções e em relativa madureza para a manifestação necessária aos efeitos físicos.


A história do Espiritismo registra muitos casos de materializações, sendo um dos mais conhecidos o do Espírito Katie King que, em vida, fora Annie Owen Morgan, filha do pirata inglês Morgan, tendo como médium a notável Florence Cook, e como experi­mentador o grande sábio inglês William Crookes que; durante anos, conviveu com Katie e cujas observações foram publicadas no livro "Fatos Espíritas".
As inúmeras formas de evidência de apoio à crença na sobrevivência da personalidade após a morte têm sido, sistematicamente, rejeitadas pela ortodoxia científica, conforme já citado. Tal cepticismo é apoiado em uma série de argumentos, alguns deles razoáveis, porém a maioria baseada apenas em hipóteses sem suporte experimentação positiva ou razões sólidas. Entretanto, à medida que os adversários da posição defendida pelos espiritualistas exigem, destes, demonstrações cada vez mais rigorosas, vão surgindo, também, métodos mais sofisticados para a confirmação da sobrevivência da personalidade após a morte.
Ultimamente, investigações rigorosas das ocorrências espontâneas ligadas às visões dos moribundos às vésperas de morrer, como os casos de experiências de quase morte, e de casos de reencarnação têm reforçado sobremaneira as evidências que apontam em direção à realidade da sobrevivência.
Sobre Experiências de Quase Morte (EQM), o termo refere-se a um conjunto de sensações freqüentemente associadas a situações de morte iminente. As pessoas que vivenciaram o fenômeno, geralmente relatam uma série de experiências comuns a elas, tais como:
um sentimento de paz interior;
a sensação de flutuar acima do seu corpo físico;
a percepção da presença de pessoas à sua volta;
visão de 360º;
ampliação de vários sentidos;
a sensação de viajar através de um túnel intensamente iluminado no fundo (efeito túnel).
Um dado importante é que na maioria dos casos a morte clínica do paciente foi atestada pelos médicos, mas em nenhum deles houve a confirmação de morte cerebral. Segundo os estudos, as experiências de quase-morte têm características similares, independente da formação cultural, intelectual ou da situação econômica dos pacientes. Independem até mesmo da idade, pois há casos específicos de ocorrência com crianças. Iniciam sempre com acidentes cardiovasculares, afogamentos, choques elétricos, complicações anestésicas em cirurgias, atropelamentos, etc. Os pacientes trazem todos os sintomas de morte clínica. Ao mesmo tempo em que médicos, familiares e amigos, estão fazendo de tudo para socorrer as vítimas, estas afirmam flutuar sobre o seu corpo físico, onde acompanham os acontecimentos e percebem que possuem um outro corpo, diáfano, transparente, e que sua consciência acompanha este novo corpo, de natureza espiritual. Têm uma sensação interior de paz, às vezes ouvem ruídos ou assistem ao desenrolar de suas vidas como um filme rodado em incrível velocidade, de modo a que nenhum fato se perca, até os mais banais. Encontram-se com seus familiares e amigos já falecidos, com imensa alegria.
Recentemente tem sido dada enorme atenção aos relatos de EQM pelo meio científico. Os fatos são, pela ciência, freqüentemente associados a uma resposta secundária fisiológica do cérebro associadas a hipóxia cerebral[1] . A Doutrina Espírita esclarece que nas experiências próximas da morte, o espírito ganha uma emancipação parcial, semelhante à que ocorre em certos sonhos. Os relatos sobre a travessia do túnel coincidem inteiramente com o que dizem os espíritos psicografados por diversos médiuns no mundo todo. A visão da luz sobrenatural não significa que o espírito esteja entrando em contato com Deus ou com seres altamente iluminados. Ela apenas assinala seu ingresso num outro domínio da existência, a dimensão incorpórea.
Entre as manifestações atribuíveis aos “mortos”, através de médiuns, a escrita automática (psicografia) é uma das mais importantes, pela sua simplicidade e facilidade prática. Durante o Século XX, presenciamos manifestações psicográficas de inúmeros médiuns excelentes, entre os quais se destaca o grande sensitivo Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier), reconhecidamente o maior médium psicógrafo do século passado. O fabuloso material psicografado por Chico Xavier contém abundantes evidências a favor da tese espiritualista.
Recentemente um trabalho do perito em Grafoscopia, Dr. Carlos Augusto Perandrea, da cidade de Londrina no Paraná, trouxe novos subsídios concernentes à imortalidade da alma. Ele publicou um livro intitulado “A Psicografia à Luz da Grafoscopia” (ver referência bibliográfica n. 3) onde prova a comunicação psicográfica comparando a letra (padrão) do indivíduo antes da morte e depois em mensagens mediúnicas (psicografia) analisando em laudo técnico e chegando à conclusão de autenticidade gráfica. Com mais de 700 laudos proferidos em sua vida profissional sem uma única contestação, este trabalho onde ele comprova a autoria gráfica de pessoas já mortas através da mediunidade de Chico Xavier fora apresentado em um Congresso Nacional, diante de mais de 500 Profissionais e Peritos da área, sem uma única contestação.
Dentre os casos examinados pelo grafotécnico Perandréa, um dos que despertou mais interesse foi o da mensagem psicografada por Chico Xavier no dia 22 de julho de 1978, em italiano, do espírito de Ilda Mascaro Saullo, desencarnada em Roma, em 20 de dezembro de 1977, dirigida aos seus familiares residentes no Brasil. Carlos Augusto Perandréa, após analisar uma mensagem recebida em italiano, língua que Chico não conhecia, em comparação com escritos dessa pessoa quando viva, atesta em seu Livro:

“A mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, em 22 de julho de 1978, atribuída a Ilda Mascaro Saullo, contém, conforme demonstração fotográfica, em ‘numero’ e em ‘qualidade’, consideráveis e irrefutáveis características de gênese gráfica suficientes para a revelação e identificação de Ilda Mascaro Saullo como autora da mensagem questionada”


Figura : Igualdades de cultura gráfica entre escritas questionada (mediúnica) e padrão.

No caso, Perandréa, quando divulgou seu trabalho, não era espírita, era católico. Isso mostra que sua fé não influiu no seu laudo. O trabalho “A Psicografia à Luz da Grafoscopia” constitui, sem dúvida, um avanço e tem relevante importância na consolidação da tese da sobrevivência da alma.
Outro campo de pesquisa que cada vez mais tem se firmado dentro da análise da imortalidade da alma se relaciona com a técnica conhecida como Transcomunicação Instrumental (TCI). A TCI é descrita como um recurso que permite a comunicação entre encarnados e desencarnados por meio de aparelhos eletrônicos. Segundo os transcomunicadores, ela pode ser utilizada como prova científica de que realmente a morte não existe. As técnicas evoluíram muito desde o início dos experimentos. Os que trabalham na área afirmam que tudo começou com um simples gravador e evoluiu para os telefonemas para o "outro lado", com sincronia de imagens. Segundo Sonia Rinaldi, fundadora da ação Nacional de Transcomunicadores – ANT - e uma das grandes pesquisadoras do assunto, o Brasil tem hoje os melhores resultados do mundo. Dentre outros nomes importantes dentro da TCI, a nível nacional, é de suma importância também citar o saudoso Dr. Hernani Guimarães Andrade.
Quanto a veracidade dos dados obtidos, pesquisadores do assunto afirmam que há fraudes em todos os meios, mas devido ao controle científico adotado nos experimentos, às técnicas utilizadas, ao conteúdo obtido e à honestidade dos pesquisadores, tem se cada vez mais afastado a possibilidade de erro. O pesquisador brasileiro Clovis Nunes descreve que durante anos chegou a ser cogitado que as gravações atribuídas aos mortos poderiam ser resultados de interferências. Para afastar essa suposição, ele conta que os pioneiros nesse tipo de pesquisa chegaram a colocar seus equipamentos em tanques de glicerina, que impedem as ondas eletromagnéticas de alcançar as mídias de gravação. Assim mesmo o fenômeno se repetiu. Porém, é importante citar que a TCI ainda se encontra em fase de desenvolvimento.
Há um episódio interessante relacionado com a TCI, relatado pelos pesquisadores americanos von Szalay e Raymond Bayless. Certa ocasião von Szalay, ao repassar uma fita cassete comum, após uma tentativa de gravação via TCI, encontrou uma voz feminina dizendo nitidamente: "hot dog, art!" (Art é o apelido de Atila Von Szalay). A voz era bastante alta e clara, a ponto de von Szalay a reconhecer e lembrar-se de uma passagem marcante da sua vida: durante sua juventude ele conquistara uma garota na cidade de Nova York, nos Estados Unidos da América. Ele e sua namorada eram paupérrimos naquela ocasião, por isso o seu almoço consistia em comprar em um dado local, dois "hot dogs" por alguns centavos de dólar e com isso fazerem a sua refeição. Sendo jovens, levavam aquela situação esportivamente, prometendo-se mutuamente que "hot dog" seria uma palavra lembrada para eles, para sempre. Passado os anos, separaram-se e von Szalay nunca mais soube de sua ex-namorada. Presumivelmente, ela teria já então falecido e veio, desse modo, relembrar a von Szalay aquele episódio de suas vidas de jovens, imprimindo na fita do gravador a palavra combinada: "hot dog, Art!"

4 – Emancipação da alma
Durante o sono, apenas o corpo repousa; o Espírito, esse não dorme; aproveita-se do repouso do primeiro e dos momentos em que a sua presença não é necessária para atuar isoladamente e ir aonde quiser, no gozo então da sua liberdade e da plenitude das suas faculdades. Durante a encarnação, o Espírito jamais se acha completamente separado do corpo; qualquer que seja a distância a que se transporte, conserva-se preso sempre àquele por um laço fluídico que serve para fazê-lo voltar à prisão corpórea, desde que a sua presença ali se torne necessária. Esse laço só a morte o rompe.
Durante o sono, a alma se liberta parcialmente do corpo. Quando dormimos, ficamos, temporariamente, no estado em que nos acharemos de maneira definitiva após a morte. Os Espíritos que depois da morte de seus corpos se desligaram da matéria, tiveram sonos inteli­gentes; aqueles, quando dormem, juntam-se à sociedade de outros seres que lhes são superiores; viajam, conver­sam e se instruem com eles, trabalham mesmo em obras que, quando morrem, acham inteiramente acabadas. Isto deve ensinar-vos a não temer a morte, pois que morreis todos os dias, como o disse um santo.
Assim é com relação aos Espíritos elevados. Quan­to à massa geral dos homens que, por ocasião da morte, têm de passar por aquela perturbação, por aquela incer­teza de que eles próprios vos hão falado, esses vão ou a mundos inferiores à Terra, aonde os chamam antigas afeições, ou em busca de prazeres ainda mais degra­dantes, talvez, do que os de sua predileção neste mundo. Vão à cata de doutrinas ainda mais vis, mais ignóbeis, mais nocivas do que as que entre vós professam. O que gera na Terra a simpatia é apenas o fato de que o Espírito, ao despertar, se sente vinculado, pelo coração, àqueles em cuja companhia acaba de passar oito ou nove horas de ventura ou de prazer. Por outro lado, o que também explica essas invencíveis antipatias que uma criatura às vezes experimenta é que ela sente, dentro do seu coração, que os que lhe são antipáticos possuem uma consciência diversa da sua, pois que ela os conhece sem jamais os ter visto. É também o que explica a indiferença, que nasce da circunstância de não nos in­teressar o granjeio de novos amigos, quando sabemos que outros contamos que nos amam e nos querem. Numa palavra: o sono influi mais do que supondes na vossa vida.
Por meio do sono, os Espíritos encarnados estão sempre em relação com o mundo dos Espíritos e é isso o que faz que os Espíritos superiores consintam, sem grande repugnância, em encarnar entre vós. Deus quer que, enquanto se achem em contacto com o vício, eles possam ir retemperar-se na fonte do bem, para não su­ceder que também venham a falir, quando o que lhes cabe é instruir os outros. O sono é a porta que Deus lhes abriu para irem ter com seus amigos do céu; é o recreio após o trabalho, enquanto aguardam a grande libertação, a libertação final que os restituirá ao meio que lhes é próprio.
O sonho é a lembrança do que o Espírito viu du­rante o sono. Notai, porém, que nem sempre sonhais, pois que nem sempre vos lembrais do que vistes, ou de tudo o que vistes. É que a vossa alma não se acha em todo o desenvolvimento de suas faculdades; não é, muitas vezes, mais do que a lembrança da perturbação que expe­rimenta à partida ou à volta, a qual se junta a do que fizestes ou do que vos preocupa no estado de vigília. Se assim não fosse, como explicaríeis os sonhos absurdos, que tanto os mais sábios, como os mais simples têm? Também os maus Espíritos se servem dos sonhos para atormentar as almas fracas ou pusilânimes.
A incoerência dos sonhos ainda se explica pelas lacunas resultantes da recordação incompleta do que du­rante eles foi visto. Dá-se então o que se daria com uma narrativa da qual se truncassem frases ao acaso: reuni­dos, os fragmentos que restassem nenhuma significação racional apresentariam.
O Espírito André Luiz, no capítulo 38 do Livro Os Mensageiros, anota as observações do orientador espiritual a respeito das instruções que os Espíritos transmitem aos encarnados, quando estão desprendidos parcialmente do corpo (sonho). E, o que mais lhe causava estranheza, era o estado em que eles, aí, se apresentavam: a grande maioria sem entenderem o que se passava, poucos lúcidos “... revelando boa vontade na recepção dos conselhos, mas grande incapacidade de retenção”.
O sonho de Joana d’Arc, o sonho de Jacob, os sonhos dos profetas judeus e de alguns adivinhos indianos são lembranças que a alma, inteiramente desprendida do corpo, conserva dessa outra vida.
A independência e a emancipação da alma se manifestam, de maneira evidente, sobretudo no fenômeno do sonambulismo natural e magnético, na catalepsia e na letargia. A lucidez sonambúlica não é senão a facul­dade, que a alma tem, de ver e sentir sem o concurso dos órgãos materiais. É um de seus atributos essa faculdade e reside em todo o seu ser, não passando os órgãos do corpo de estreitos canais por onde lhe chegam certas percepções. A visão a distância, que alguns so­nâmbulos possuem, provém de um deslocamento da alma, que então vê o que se passa nos lugares a que se trans­porta. Em suas peregrinações, ela se acha sempre reves­tida do seu perispírito, agente de suas sensações, mas que nunca se desliga completamente do corpo, como já foi dito. O afastamento da alma produz a inércia do corpo, que às vezes parece sem vida.
Esse afastamento ou desprendimento pode tam­bém operar-se, em graus diversos, no estado de vigília. Mas, então, jamais o corpo goza inteiramente da sua atividade normal; há sempre uma certa absorção, um alheamento mais ou menos completo das coisas ter­restres. O corpo não dorme, caminha, age, mas os olhos olham sem ver, dando a compreender que a alma está em algum lugar. Como no sonambulismo, ela vê as coisas dis­tantes; tem percepções e sensações que desconhecemos; às vezes, tem a presciência de alguns acontecimentos futuros pela ligação que percebe existir entre eles e os fatos presentes. Penetrando no mundo invisível, vê os Espíritos com quem lhe é possível entrar em conversação e cujos pensamentos lhe é dado transmitir.
À sua volta ao estado normal, de ordinário sobrevém o esquecimento do que se passou. Algumas vezes, porém, ela conserva uma lembrança mais ou menos vaga do ocorrido, como se tivesse tido um sonho.
Não raro, a emancipação da alma amortece tanto as sensações físicas, que chega a produzir verda­deira insensibilidade que, nos momentos de exaltação, lhe possibilita suportar com indiferença as mais vivas dores. Provém essa insensibilidade do desprendimento do perispírito, agente transmissor das sensações cor­porais. Ausente, o Espírito não sente as feridas feitas no corpo.
Em sua manifestação mais simples, a faculdade que a alma tem de emancipar-se produz o que se denomina o devaneio em vigília. A algumas pessoas, essa emancipação também dá a presciência, que se traduz pelos pressentimentos; em grau mais avançado de desprendi­mento, produz o fenômeno conhecido pelo nome de “se­gunda vista”, “vista dupla”, ou “sonambulismo vígil”.
O êxtase é a emancipação da alma no grau máximo. No sonho e no sonambulismo, a alma caminha pelos mundos terrestres; no êxtase, penetra num mundo desconhecido, no mundo dos Espíritos etéreos, com os quais entra em comunicação, sem, todavia, poder ultra­passar certos limites, que ela não poderia transpor sem quebrar totalmente os laços que a prendem ao corpo. Cercam-na um brilho resplandecente e desusado fulgor, elevam-na harmonias que na Terra se desconhecem, in­vade-a indefinível bem-estar; dado lhe é gozar anteci­padamente da beatitude celeste e bem se pode dizer que põe um pé no limiar da eternidade. No êxtase, é quase completo o aniquilamento do corpo; já não resta, por assim dizer, senão a vida orgânica e percebe-se que a alma lhe está presa apenas por um fio, que mais um pequeno esforço faria partir-se.
Como em nenhum dos outros graus de eman­cipação da alma, o êxtase não é isento de erros, pelo que as revelações dos extáticos longe estão de exprimir sempre a verdade absoluta. A razão disso reside na im­perfeição do espírito humano; somente quando ele há chegado ao cume da escala pode julgar das coisas lucida­mente; antes não lhe é dado ver tudo, nem tudo com­preender. Se, após o fenômeno da morte, quando o des­prendimento é completo, ele nem sempre vê com justeza; se muitos há que se conservam imbuidos dos prejuízos da vida, que não compreendem as coisas do mundo visí­vel, onde se encontram, com mais forte razão o mesmo há de suceder com o Espírito ainda retido na carne.
Há por vezes, nos extáticos, mais exaltação que verdadeira lucidez, ou, melhor, a exaltação lhes preju­dica a lucidez, razão por que suas revelações são com freqüência uma mistura de verdades e erros, de coisas sublimes e outras ridículas. Também Espíritos inferio­res se aproveitam dessa exaltação, que é sempre uma causa de fraqueza quando não há quem saiba governá-la, para dominar o extático, e, para conseguirem seus fins, assumem aos olhos deste aparências que o aferram às suas idéias e preconceitos, de modo que suas visões e revelações não vêm a ser mais do que reflexos de suas crenças. É um escolho a que só escapam os Espíritos de ordem elevada, escolho diante do qual o observador deve manter-se em guarda.
Pessoas há cujo perispírito se identifica de tal maneira com o corpo, que só com extrema dificuldade se opera o desprendimento da alma, mesmo por ocasião da morte; são, em geral, as que viveram mais para a matéria; são também aquelas para as quais a morte é mais penosa, mais cheia de angústias, mais longa e dolorosa a agonia. Outras há, porém, cujas almas, ao contrário, se acham presas ao corpo por liames tão frágeis, que a separação se efetua sem abalos, com a maior facilidade e freqüentemente antes que se dê a morte do corpo. Ao aproximar-se-lhes o termino da vida, essas almas entrevêem o mundo onde vão penetrar e pelo qual aspiram no momento da libertação completa.

Referências Bibliográficas
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, Q. 134 a 146.
O Espiritismo Básico, Pedro Franco Barbosa.
A Psicografia à Luz da Grafoscopia, C. A. PERANDRÉA, São Paulo, Editora Fé, 1991.
Os Mortos nos Falam, Pe. F. BRUNE, Sobradinho-DF, Edicel, 1991.
Depois da Morte, Léon Denis, FEB16a edição, 1990.
O Fenômeno Espírita, Gabriel Delanne.
site : http://www.inbrapenet.com.br/neu/html/prefacio.htm.
Vida Depois da Vida, de Raymond Moody, Ed. Nórdica.
Os Mensageiros, Francisco Cândido Xavier, FEB 37o. edição, 2001. cap. 8 e 38.




[1] Hipóxia cerebral: é uma condição aonde há diminuição no suprimento de oxigênio ao cérebro ou partes do mesmo apesar do fluxo adequado de sangue.