Curso: Espiritismo e Evangelho II
TEMA: As Leis Morais
São de todos os tempos as leis morais da vida, estabelecidas pelo Supremo Pai. Invioláveis, constituem o roteiro de felicidade pelo rumo evolutivo, impondo-se, paulatinamente, à inteligência humana achando-se estabelecidas nas bases da harmonia perfeita em que se equilibra a Criação (JOANA DE ÂNGELIS).
OBJETIVOS DO TEMA:
· Apresentar de forma clara e objetiva o que são as Leis Morais, descrevendo as dez partes em que se divide de modo a abranger todas as circunstâncias da vida ;
1 - Lei Divina ou Natural
Q.614: Que se deve entender por lei natural?
“A lei natural é a lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem. Indica-lhe o que deve fazer ou deixar de fazer e ele só é infeliz quando dela se afasta.”
Q. 615: É eterna a lei de Deus?
“Eterna e imutável como o próprio Deus.”
(O Livro dos Espíritos – Allan Kardec)
Quanto mais o homem desenvolve suas faculdades intelectuais e aprimora suas percepções espirituais, tanto mais vai-se inteirando de que o mundo material, esfera de ação da Ciência, e a ordem moral, objeto especulativo da Religião, guardam íntimas e profundas relações entre si, concorrendo, uma e outra, para a harmonia universal, mercê das leis sábias, eternas e imutáveis que os regem, como sábio, eterno e imutável é o Seu legislador.
Ninguém contesta ser absolutamente indispensável habituar-nos, pouco a pouco, com a intensidade da luz para que ela não nos deslumbre ou encegueça. A Verdade, do mesmo modo, para que seja útil, precisa ser revelada de conformidade com o grau de entendimento de cada um de nós. Daí não ter sido posta, sempre, ao alcance de todos, igualmente dosada.
Kardec, instruído pelas vozes do Alto, diz-nos que em todas as épocas e em todos os quadrantes da Terra, sempre houve homens de bem (profetas) inspirados por Deus para auxiliarem a marcha evolutiva da Humanidade.
1.1 - Lei de Adoração
Em todas as épocas, todos os povos praticaram, a seu modo, atos de adoração a um Ente Supremo, o que demonstra ser a ideia de Deus inata e universal.
Com efeito, jamais houve quem não reconhecesse intimamente sua fraqueza, e a conseqüente necessidade de recorrer a Alguém, todo-poderoso, buscando-Lhe o arrimo, o conforto e a proteção, nos transes mais difíceis desta tão atribulada existência terrena.
Tempos houve em que cada família, cada tribo, cada cidade e cada raça tinha os seus deuses particulares, em cujo louvor o fogo divino ardia constantemente na lareira ou nos altares dos templos que lhes eram dedicados.
Retribuindo essas homenagens (assim se acreditava), os deuses tudo faziam pelos seus adoradores, chegando até a se postar à frente dos exércitos das comunas ou das nações a que pertenciam, ajudando-as em guerras defensivas ou de conquista.
Em sua imensa ignorância, os homens sempre imaginaram que, tal qual os chefes tribais ou os reis e imperadores que os dominavam aqui na Terra, também os deuses fossem sensíveis às manifestações do culto exterior, e dai a poposidade das cerimônias e dos ritos com que os sagravam.
Imaginavam-nos, por outro lado, ciosos de sua autenticidade ou de sua hegemonia e, vez por outra, adeptos de uma divindade entravam em conflito com os de outra, submetendo-a a provas, sendo então considerado vencedora aquela que conseguisse operar feito mais surpreendente.
Sirva-nos de exemplo o episódio constante do Livro dos Reis, capo 18, v. 22 a 40. Ali se descreve o desafio proposto por Elias aos adoradores de Baal, para saber-se qual o deus verdadeiro. Colocadas as carnes de um boi sobre o altar dos holocaustos, disse Elias a seus antagonistas: "Invocai vós, primeiro, os nomes dos vossos deuses, e eu invocarei, depois, o nome do meu Senhor; e o deus que ouvir, mandando fogo, esse seja o Deus."
Diz o relato bíblico que por mais que os baalitas invocassem o seu deus, em altos brados e retalhando-se com canivetes e lancetas, segundo o seu costume, nada conseguir.
Chegada a vez do deus de Israel, este fez cair do céu um fogo terrível, que devorou não apenas a vítima e a lenha, mas até as próprias pedras do altar.
Diante disso, auxiliado pelo povo, Elias agarrou os seguidores de Baal e, arrastando-os para a beira de um rio, ali os decapitou.
O monoteísmo, depois de muito tempo, impôs-se, afinal, ao politeísmo, e seria de crer-se que, com esse progresso, compreendendo que o Deus adorado por todas as religiões é um só, os homens passassem, pelo menos, a respeitar-se mutuamente, visto as diferenças, agora, serem apenas quanto à forma de cultuar esse mesmo Deus.
Não foi tal, porém, o que sucedeu. E os próprios "cristãos", séculos após séculos, contrastando frontalmente com os piedosos ensinamentos do Cristo, empolgados pelo fanatismo da pior espécie, não hesitaram em trucidar, a ferro e fogo, milhares e milhares de "hereges" e "infiéis", "para maior honra e glória de Deus!" - como se Aquele que é o Senhor da Vida pudesse sentir-se honrado e glorificado com tão nefandos assassínios...
Atualmente, bastante enfraquecido, o sectarismo religioso começa a derruir, o que constitui prenúncio seguro de melhores dias, daqui para o futuro.
Acreditamos, mesmo, que, graças à rápida aceitação que a Doutrina Espírita vem alcançando por toda a parte, muito breve haveremos de compreender que todos, sem exceção, somos de origem divina e integrantes de uma só e grande família. E posto que Deus é Amor, não há como adorá-Lo senão "amando-nos uns aos outros", pois, como sabiamente nos ensina João, o apóstolo (Cap. I ep., 4 :20), "se o homem não ama a seu irmão, que lhe está próximo, como pode amar a Deus, a quem não vê?"
A Prece
“A prece — define Kardec — é uma invocação, mediante a qual o homem entra em comunicação com o ser a quem se dirige.”
Deve ser feita diretamente a Deus, que éo Senhor da Vida, mas pode, também, ser-Lhe endereçada, por intermédio dos bons Espíritos (Santos), que são os Seus mensageiros e os executores de Sua vontade.
Três podem ser os objetivos da prece: louvar, pedir e agradecer.
A louvação consiste em exaltar os atributos da Divindade, não, evidentemente, com o propósito de ser-Lhe agradável, visto que Deus é inacessível à lisonja. Há-de traduzir-se por um sentimento espontâneo e puro de admiração por Aquele que, em todas as Suas manifestações, se revela detentor da perfeição absoluta.
As petições visam a algo que se deseje obter, em benefício próprio ou de outrem. Que é o que se pode pedir? Tudo, desde que não contrarie a Lei de Amor que rege e sustenta a Harmonia Universal. Exemplos: perdão de faltas cometidas forças para resistir às tentações e aos maus pendores proteção contra os inimigos, saúde para os enfermos, iluminação para os Espíritos conturbados e paz para os sofredores (encarnados ou desencarnados) amparo diante de um perigo iminente, coragem para vencer as contingências terrenas, paciência e resignação nos transes aflitivos e dolorosos, inspiração sobre como resolver uma situação difícil, seja ela de ordem material ou moral, etc.
Os agradecimentos obviamente por todas as bênçãos com que Deus nos felicita a existência, pelos favores recebidos, pelas graças alcançadas, pelas vitórias conseguidas e outras coisas semelhantes.
O veículo que conduz a prece até ao seu destinatário é o pensamento o qual se irradia pelo Infinito, através de ondulações mentais, à feição das transmissões radiofônicas ou de televisão, que, por meio das ondas eletromagnéticas, cortam o espaço a uma velocidade de 300.000 quilômetros por segundo.
A eficácia da prece não depende da postura que se adote, das palavras mais ou menos bonitas com que seja. formulada, do lugar onde se esteja, nem de horas convencionais. Decorre, isto sim, da humildade e da fé daquele que a emite, a par da sinceridade e veemência que lhe imprima.
Não se creia, entretanto, que basta orar, mesmo bem, para que os efeitos desejados se façam sentir de imediato e em qualquer circunstância.
Tal crença seria enganosa.
A prece não pode, por exemplo, anular a Lei de Causa e Efeito, segundo a qual cada um deve colher os resultados do que faz ou deixa de fazer.
Tão-pouco dispensa quem quer que seja do uso das faculdades que possui, nem do trabalho que Lhe compete, na busca ou na realização do objetivo pretendido.
Por outro lado, nem sempre aquilo que o homem implora corresponde ao que realmente lhe convém, com vistas à sua felicidade futura. Deus, então, em Sua onisciência e suprema bondade, deixa de atender ao que lhe seria prejudicial, “como procede um pai criterioso que recusa ao filho o que seja contrário aos seus interesses
Apesar dessas restrições, longe de ser inútil, a prece é recurso de grande valia, desde que feita com discernimento, revista-se das qualidades a que nos referimos linhas acima e seja complementada por nós com os movimentos de alma ou com os esforços exigidos pela vicissitude que no-la tenha inspirado.
Destarte, quando oramos a Deus, rogando-lhe que nos perdoe uma ação má, é preciso que estejamos efetivamente arrependidos de havê-la praticado e alimentemos o firme propósito de não repetí-la; quando Lhe exoramos que nos livre da sanha de nossos adversários, é indispensável que tomemos a iniciativa de uma reconciliação com eles, ou que, pelo menos, a fácilitemos; quando Lhe suplicamos ajuda para sair de uma dificuldade, é necessário que, em recebendo do Alto uma idéia salvadora, nos empenhemos em sua execução da melhor forma possível; quando Lhe pedimos ânimo para vencer determinadas fraquezas, é imperioso que façamos a nossa parte, alijando de nossa mente as cogitações e as lembranças que com elas se relacionem dando, também, os devidos passos no sentido de desenvolver as Virtudes que lhes sejam opostas, e assim por diante.
Agindo de conformidade com a máxima: “Ajuda-te, que o céu te ajudará”, estejamos certos, haveremos de contar, sempre, com a assistência e o socorro dos prepostos de Deus, de modo a que, mesmo sem derrogar-lhe as leis, nem frustrar-Lhe os desígnios, sejamos providos daquilo que mais carecemos, quer se trate de remover obstáculos, superar necessidades ou minorar tribulações.
Sacrifícios
Compulsando-se a história das religiões, verifica-se que o oferecimento de sacrifícios à Divindade remonta a um passado remotíssimo, a. perder-se na noite das idades.
As oferendas, que a princípio consistiam em frutos da terra, passaram, depois, a constituir-se de animais, cujas carnes eram queimadas nos altares, transformando-se, mais tarde, em sacrifícios humanos.
O Velho Testamento faz inúmeras referências ao holocausto de vítimas humanas aos deuses Baal, Moloque e outros, dando-o como prática generalizada entre os povos asiáticos, sendo que o Gênesis, capítulo 22, nos conta que até mesmo Abraão, um dos patriarcas do Judaísmo, intentara. matar seu filho único Isaac, como prova de amor a Jeová, sômente não o fazendo porque, no último instante, um anjo interveio, ordenando fôsse suspensa a. imolação.
Segundo relata um escritor do passado, 300 cidadãos e 200 crianças das melhores famílias de Cartago (África) foram, certa vez, oferecidos em sacrifício a Saturno, visando a aplacar-lhe a ira, por acreditarem que a situação penosa em que se encontravam (o sítio da cidade por poderosas hostes conquistadoras) fósse motivado pelo fato de, até então, só haverem oferecido a essa divindade filhos de escravos estrangeiros.
Na Europa, os sacrifícios humanos, se bem que em menor número, também foram praticados séculos pós séculos. Dizem-nos os historiadores que na Grécia, para homenagear ou saciar Apolo, Dionísio, Zêus e outros deuses, jovens e crianças eram queimadas em piras fúnebres lançados do alto dos penhascos ou chibatados até a morte. Na Itália, adotava-se o afogamento atirando-se trinta pessoas, anualmente, às águas do rio Tibre. O deus cultuado na Zelândia, verdadeiro monstro, exigia, em igual período, o sacrifício de nada menos que noventa e nove pessoas. Na Bretanha, conforme o relato de César, fazia-se uma colossal estátua de vime, enchiam-na de vítimas e deitavam-lhe fogo. Já na Gália, colocavam-nas num altar e abriam-lhe o peito à espada.
Entre os povos Primitivos da América, esse costume bárbaro deve ter vigorado também, por muito tempo. Haja vista que, quando da conquista do México, no século 16, foram encontradas em um templo cerca de 136.000 caveiras de vítimas sacrificadas aos deuses ali adorados pelos astecas.
Esclarecem-nos, entretanto, os mentores espirituais, através de Kardec, que não era por maldade que os homens da Antigüidade procediam dessa forma, mas sim por mera ignorância.
E explicam: em nossos dias, quando nos dispomos a oferecer um presente a alguém, não o escolhemos de tanto maior valor quanto mais estima queiramos testemunhar a esse alguém, ou quanto mais interesse tenhamos em conquistar-lhe as boas graças a fim de solicitar-lhe certos favores?
Não eram outros os motivos que levavam nossos antepassados a sacrificar às divindades. Como, porém, não podiam concebê-las com os atributos da perfeição, antes as rebaixavam ao nível deles mesmos, julgavam, erroneamente, que o holocausto a ser-lhes oferecido seria tanto mais valioso quanto mais importante fosse a vítima.
Dai porque nos ofícios sacrificatórios os produtos agrícolas foram, com o tempo, preteridos pelos animais, que, por sua vez, foram substituídos por seres humanos: estrangeiros ou inimigos, e, posteriormente, em lugar destes, os pais passaram a. sacrificar os próprios filhos!
É que — supunham —, com estas oblatas, os deuses haveriam de sentir-se muito mais honrados.
As pessoas esclarecidas compreendem agora, que, conquanto praticados com piedosa intenção, tais sacrifícios nunca foram agradáveis a Deus, como não podem agradar-lhe tão-pouco, as maceraçôes e as penitências que certos religiosos continuam a impor-se sem que aproveitem a ninguém
A Doutrina Espírita fazendo luz sobre este assunto, ensina-nos que o Único Sacrifício abençoado por Deus é aquele que se faça por amor e em benefício do próximo, e que “o melhor meio de honrá-lo, Consiste em minorar os sofrimentos dos pobres e dos aflitos.”
1.2 – A Lei de Trabalho
O trabalho é uma lei da natureza a que ninguém se pode esquivar, sem prejudicar-se, pois é por meio dele que o homem desenvolve sua inteligência e aperfeiçoa suas faculdades.
O trabalho honesto fortalece-lhe o sentimento de dignidade pessoal, fá-lo respeitado pela comunidade em que vive, e, quando bem realizado, contribui para dar-lhe a sensação de segurança, três coisas fundamentais que todos buscamos.
Para que o homem tenha êxito no trabalho, e como tal deve entender-se não necessàriamente o ganho de muito dinheiro, mas uma constante satisfação intima, faz-se mister que cada qual se dedique a um tipo de atividade de acordo com suas aptidões e preferências, sem se deixar influenciar pela vitória de outrem nesta ou naquela carreira, porquanto cada arte, ofício ou profissão exige determinadas qualidades que nem todos possuem.
Quem não consiga uma ocupação condizente com o que desejaria, deve, para não ser infeliz, adaptar-se ao trabalho que lhe tenha sido dado, esforçando-se por fazê-lo cada vez melhor, mesmo que seja extremamente fácil. Isso ajudará a gostar dele. Quando se trate de algo automatizado que não permita qualquer mudança, como acontece em muitas fábricas modernas, o remédio é compenetrar-se de que sua função na empresa também é importante, assumindo a atitude daquele modesto operário cujo serviço era quebrar pedras e que, interrogado sobre o que fazia, respondeu com entusiasmo: "Estou ajudando a construir uma catedral".
Importa, igualmente, se adquira a convicção de que embora apenas alguns poucos possam ser professores, médicos, engenheiros, advogados ou administradores, todos, indistintamente, desde que desenvolvam um trabalho prestadio, estão dando o melhor de si, concorrendo, assim, para o progresso e o bem-estar social, como lhes compete.
De outro lado, pelo fato de ser uma lei natural, o trabalho deve ser assegurado a todos os homens válidos que o solicitem, para que, em contrapartida, lhes seja exigido que provejam às necessidades próprias e da família, sem precisarem pedir nem aceitar esmolas.
O desemprego, e consequentemente a fome, a nudez, o desabrigo, a enfermidade, a prostituição, o crime, etc, constituem provas de que a sociedade se acha mal organizada, carecendo de reformas radicais que melhor atendam à Justiça Social.
Como acertadamente disse Constâncio C. Vigil, "constitui dolorosa anomalia deixar-se o ser humano em situação de não poder defender-se da miséria, até delinquir ou morrer. O desempregado tem direito à vida. Por conseguinte, o Estado só pode castigá-lo pelo roubo se lhe proporciona meios, para assegurar a subsistência através do trabalho."
Sujeitar, portanto, irmãos nossos à condição de párias, enquanto incontáveis hectares de terra permanecem inexplorados, nas mãos do Estado ou de uns poucos ambiciosos que os foram acumulando, como se fossem títulos negociáveis, é um crime de lesa-humanidade.
Os governos devem fazer que as terras devolutas ou mal aproveitadas sejam devidamente cultivadas.
Uma distribuição pura e simples de pequenos lotes a homens desprovidos de conhecimentos e de recursos pecuniários para o seu trato não será, entretanto, suficiente para a colimação desse objetivo. :m indispensável prestar-se-lhes, também, assistência técnica e ajuda financeira, de modo que, conjugando-se, capital e trabalho bem orientados, tornem viável a fecundação do solo e a erradicação da indigência que assola tão vastas áreas do mundo.
Os que supõem seja o trabalho apenas um "ganha pão", sem outra finalidade que não a de facultar os meios necessários à existência, laboram em erro. Se o fosse, então todos aqueles que possuíssem tais meios, em abundância, poderiam julgar-se desobrigados de trabalhar.
Em verdade, porém, a lei de trabalho não isenta ninguém da obrigação de ser útil. Ao contrário. Quando Deus nos favorece, de maneira que possamos alimentar-nos sem verter o suor do próprio rosto, evidentemente não é para que nos entreguemos ao hedonismo, mas para que movimentemos, na prática do Bem, os "talentos" que nos haja confiado.
Isso constitui uma forma de trabalho que engrandece e enobrece nossa alma, tornando-a rica daqueles tesouros que "a ferrugem e a traça não corroem, nem os ladrões podem roubar."
Limite do Trabalho
À pergunta (nº 683) do Codificador: “qual o limite do trabalho?”, responderam os mentores espirituais incumbidos de lhe ditarem os fundamentos da nova Revelação: “o das forças”.
Isso deixa claro que, sendo, como é, fonte de equilíbrio físico e moral, o trabalho deve ser exercido por tanto tempo quanto nos mantenhamos em boas condições físicas.
Nações existem, inclusive no Brasil, onde a pouco tempo atrás ainda se considerava uma conquista social a promulgação de leis previdenciárias que permitem ao homem cruzar os braços com menos de cinqüenta anos de idade.
Cremos se trate de erro clamoroso, pois não há sistema econômico que resista a essa aberração de milhões e milhões de homens, cheios de vitalidade, ganharem sem produzir. Mais cedo ou mais tarde, todos haveremos de pagar por isso, se é que já não o estamos.
Seria mais justo, quer-nos parecer, que os beneficiários dessa legislação se mantivessem um pouco mais na ativa, para que boa parte do numerário atualmente despendido no pagamento de aposentadorias pudesse ser aplicado em favor da coletividade, através da socialização dos serviços médicos, odontológicos e correlatos, como acontece, por exemplo, na Inglaterra, pois cá entre nós está-se tornando cada vez mais difícil, mesmo às classes médias, suportarem os gastos pertinentes a tais serviços.
Que dizer-se, então, das camadas inferiores, que constituem a maioria de nossa população?
Não é só por esse lado, entretanto, que o afastamento do trabalho de homens prestativos se patenteia danoso.
A natureza exige o emprego de nossas energias e aqueles que se aposentam, sentindo-se ainda em pleno gozo de suas forças físicas e mentais, depressa caem no fastio, tornando-se desassossegados, irritadiços ou hipocondríacos.
Alguns tentam eliminar o vazio de suas horas em viagens; outros, em diversões; quase todos, porém, se cansam de uma coisa e outra, entregando-se, por fim, ao alcoolismo, à jogatina e a outros vícios que lhes arruínam, de vez, tanto a saúde como a paz íntima.
Abalizados psiquiatras e psicanalistas afirmam, com exato conhecimento de causa, que “todos os seres humanos precisam encontrar alguma coisa que possam fazer”, pois “ninguém consegue ser feliz sem que se sinta útil ou necessário a alguém.”
Frank C. Cáprio (Ajuda-te pela Psiquiatria) chega a. dizer: “Tal como o amor, o trabalho é medicinal. Alivia os males da alma.”
Isto posto, se formos homens de negócios, ao invés de os interrompermos bruscamente, convém que, ao atingirmos certa idade, diminuamos o ritmo de nossas ocupações ou o peso de nossas responsabilidades, repartindo-as gradativamente com nossos auxiliares ou com aqueles que devam suceder-nos, adquirindo, ao mesmo tempo, algum outro interesse que mantenha ocupado o nosso intelecto.
Se assalariados, que encontremos, ao aposentar-nos, uma ocupação leve, porém proveitosa, com que preencher saudàvelmente nossa vida.
Jamais, em hipótese alguma, condenar-nos à completa ociosidade, a pior coisa que pode acontecer a alguém.
Benjamim Franklin tinha 81 anos quando foi chamado a colaborar na elaboração da Carta Magna dos Estados Unidos.
Goethe acabou de escrever “Fausto”, a mais famosa de suas produções literárias, nessa mesma idade.
Edison, tendo começado a trabalhar quando era ainda uma criança, manteve-se operoso durante cerca de 75 anos, sem nunca ter es tado doente. Morreu aos 84, deixando patenteadas mais de um milhar de invenções.
Michelângelo, o fabuloso artista italiano, aos 89 anos ainda continuava produzindo obras de arte.
O marechal Rondon, notabilíssimo sertanista brasileiro e um dos grandes benfeitores da Humanidade falecido em 1958, aos 92 anos de idade, trabalhou intensamente até à decrepitude, malgrado a rudeza do meio em que passou a quase totalidade de sua fecunda existência.
Rockefeller ao completar 90 anos, declarou: “Sou o homem mais feliz do mundo. Parece-me começar a viver agora. Sou feliz porque posso trabalhar. Os dias não são suficientemente longos para que eu possa fazer tudo que desejo. Indubitàvelmente o trabalho é o segredo da felicidade.”
O Repouso
Nas respostas que deram às questões de ns. 682 e 684, formuladas por Kardec, nossos amigos espirituais nos esclarecem que “o repouso é uma lei da natureza, sendo uma necessidade para todo aquele que trabalha”, e mais: que “oprimir alguém com trabalho excessivo é uma das piores ações”, constituindo-se, mesmo, grave transgressão do Código Divino.
Com efeito, o 4º mandamento preceitua:
“Lembra-te do dia de sábado, para o santificares. Seis dias trabalharás e farás todas as tuas obras, mas o sétimo dia é o sábado, isto é, o dia de descanso do Senhor teu Deus. Nesse dia não farás obra alguma, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu animal, nem o peregrino que vive de tuas portas para dentro.”
Julgamos interessante elucidar, nesta oportunidade, que a substituição do repouso no sábado, como era observado entre os judeus, pelo domingo, como atualmente é de uso entre nós, carece de importância. Isso começou com os primeiros cristãos. Eles continuavam a frequentar as sinagogas aos sábados, mas, a par disso, tomaram o hábito de reunir-se também no primeiro dia da semana judaica (domingo), a fim de celebrarem a ressurreição de Jesus. Com o decorrer do tempo, foram deixando de comparecer às sinagogas e, consequentemente, apenas o domingo passou a ser observado por eles.
Os que advogam a observância do sábado, talvez se apóiem nas razões anexas do referido mandamento, conforme o Êxodo: “Porque o Senhor fêz em seis dias o céu, a terra, o mar, e tudo o que neles há, e descansou no sétimo dia: por isso o Senhor abençoou o dia sétimo, e o santificou.”
Sabe-se, agora, entretanto, que os seis “dias” da criação não foram dias de 24 horas, como alguns ainda. supõem, mas sim longos períodos milenares.
Além disso, em Deuteronômio, as reflexões aduzidas para recomendar esse mandamento são outras, bem diferentes: “Para que descanse o teu escravo, e a tua escrava, como tu também descansas. Lembra-te de que também serviste no Egito, e que de lá te tirou o Senhor teu Deus.”
Como se vê, aqui não se alude ao sábado como sendo o dia em que o Criador teria descansado de Sua obra; apela-se, simplesmente, para os sentimentos de caridade dos judeus, para que, nesse dia, concedam o merecido descanso igualmente ao elemento servil, inclusive aos animais, porqüanto todos precisão de repouso para o refazimento de suas energias.
O Decálogo, ninguém o ignora, baseia-se na lei natural, e a folga semanal não é mais que uma questão de higiene.
Assim sendo, quer guardemos o sábado (sábado significa descanso), ou o domingo, o que importa é que o façamos segundo o espírito da Lei, e esta o que recomenda é que após seis dias de trabalho, dedicados ao provimento do indispensável ao nosso bem-estar corporal, reservemos pelo menos um dia para o repouso, consagrando-o ao cultivo dos valores espirituais.
Isto, aliás, era o máximo que, naquela época, podia obter-se de homens embrutecidos e materializados cujos ideais se concentravam unicamente na conquista de bens terrenos e que, para consegui-los, não hesitavam em sobrecarregar familiares, servos e animais, obrigando-os a penosas jornadas de trabalho, de sol a sol, nos 365 dias do ano.
Por incrível que pareça, muitos homens, em pleno século 20, dominados pela ambição, continuam a impor-se tal regime (estendendo-o a outrem, sempre que lhes permitam dar largas ao seu poder de mando), e ainda se jactam disso, como se fôssem heróis dignos dos maiores aplausos, quando, ao revés, só merecem lástima.
Sim, porque hoje que a vida urbana se caracteriza por uma agitação contínua, exigindo-nos um gasto excessivo de energias físicas e mentais, a necessidade que todos temos de repousar periodicamente tornou-se. maior, e, daí, o estar-se generalizando a chamada “semana inglesa”, com cinco dias de trabalho e dois de descanso além das férias anuais, que lia alguns decênios já se Constitui um direito universal.
Trabalhemos, pois, “até o limite de nossas forças”, já que o trabalho é uma bênção; cuidemos porém, de evitar a exaustão e a estafa, antes que esses males nos conduzam à neurastenia ou ao esgotamento nervoso.
TRABALHO
"E Jesus lhes respondeu: Meu Pai obra até agora, e eu trabalho também." (João, 5:17.)
Em todos os recantos, observamos criaturas queixosas e insatisfeitas.
Quase todas pedem socorro. Raras amam o esforço que Ihes foi conferido. A maioria revolta-se contra o gênero de seu trabalho.
Os que varrem as ruas querem ser comerciantes; os trabalhadores do campo prefeririam a existência na cidade.
O problema, contudo, não é de gênero de tarefa,
mas o de compreensão da oportunidade recebida.
De modo geral, as queixas, nesse sentido, são filhas da preguiça inconsciente. É o desejo ingênito de conservar o que é inútil e ruinoso, das quedas no pretérito obscuro.
Mas Jesus veio arrancar-nos da "morte no erro". Trouxe-nos a bênção do trabalho, que é o movimento incessante da vida.
Para que saibamos honrar nosso esforço, referiu-se ao Pai que não cessa de servir em sua obra eterna de amor e sabedoria e à sua tarefa própria, cheia de imperecível dedicação à Humanidade.
Quando te sentires cansado, lembra-te de que Jesus está trabalhando. Começamos ontem nosso humilde labor e o Mestre se esforça por nós, desde quando? (Caminho, Verdade e Vida – Emmanuel)
1.3 – Lei de Reprodução
Q.686: É lei da Natureza a reprodução dos seres vivos?
“Evidentemente. Sem a reprodução, o mundo corporal pereceria.”
Q.694: Que se deve pensar dos usos, cujo eleito consiste em obstar à reprodução, para satisfação da sensualidade?
“Isso prova a predominância do corpo sobre a alma e quanto o homem é material.”
(Allan Kardec - O Livro dos Espíritos)
A ordenação bíblica — “crescei e multiplicai-vos” — não tem sido, até hoje, bem compreendida por todos.
Os que se atêm à letra das Escrituras, sem penetrar-lhe o espírito, vêem nessas palavras uma lei divina, estabelecendo que a. reprodução das espécies, inclusive a humana, deva ser livre e ilimitada, e que obstá-la seria grave pecado.
Sem dúvida, a reprodução dos seres vivos é lei da natureza e preenche uma necessidade no mecanismo da Evolução; isso não quer dizer, entretanto, seja proibido ao homem adotar certas medidas para a regular. Tudo depende da finalidade que se tenha em vista.
Dado, p. ex., que o desenvolvimento excessivo de determinadas plantas ou animais se revele nocivo e perigoso, pode-se perfeitamente impedir-lhes a reprodução, pois “a ação inteligente do homem é um contrapeso que Deus dispôs para restabelecer o equilíbrio entre as forças da natureza”, tal o ensino que nos chega através de Kardec.
No que tange ao controle da natalidade humana, objeto, hoje, de complexas pesquisas nos campos da Biologia, da Genética, da Farmacologia, da Sociologia, etc, e de acalorados debates entre teólogos e moralistas de várias tendências, a Doutrina Espírita nos autoriza a afirmar que, em havendo razões, realmente justas para isso, pode o homem limitar sua prole, evitando a concepção.
A questão nº 694 do Livro dos Espíritos, tira todas as dúvidas sobre o assunto, pois condena tachativamente apenas “os usos, cujo efeito consiste em obstar a. reprodução, para satisfação da sensualidade”, deixando claro que pode haver, como de fato há, inúmeros casos em que se faz necessário não só restringir, mas até mesmo evitar qualquer quantidade de filhos.
E preciso se reconheça que o lar não é um estabelecimento destinado a reproduzir seres humanos em série, mas sim um santuário-escola, onde os pais devem pontificar como plasmadores de nobres caracteres, incutindo nos filhos, a par do amor a Deus, uma vivência sadia, pautada nos princípios da Moral e da Justiça, de modo que se tornem elementos úteis a si mesmos, à família e à sociedade.
“O homem se distingue dos animais —disseram ainda os mentores da Codificação — por obrar com conhecimento de causa.” Portanto, o que dele se espera não é apenas que procrie por força do instinto sexual, qual mero reprodutor, mas que, convém repetí-lo, dignifique o nome de pai ou de mãe com que Deus lhe honra a existência.
Há quem não admita nenhum motivo para a limitação dos filhos, ou seja, o planejamento da família, na suposição de que tal medida se constitua um entrave à lei de progresso, por reduzir as oportunidades de que os desencarnados necessitam para expiar delitos do passado.
Acontece, porém, que, via de regra, esses tais não agem de conformidade com o ponto de vista que defendem, já que eles próprios, “contrariando a lei da natureza”, ao terem um, dois ou três filhinhos, dão-se por satisfeitos e... ficam por aí.
Se raciocinassem um pouquinho, haveriam de compreender outrossim que, se existem tantos seres precisando retornar à Terra, para provações reparadoras, visto se acharem endívidados perante a Justiça Divina, é precisamente porque faltou a muitos, nas encarnações anteriores, a orientação espiritual que só um lar bem constituído pode oferecer, e que lançar ao mundo proles enfermiças e deficientes, ou físicamente bem dotadas, mas votadas ao abandono, absolutamente não ajuda o adiantamento da. Terra, antes o retarda, pois contribui para aumentar o número dos desajustados, dos marginais e dos criminosos de toda sorte, infelizes que, por sua vez, exigiriam outras tantas oportunidades de reajuste e assim sucessivamente, numa progressão geométrica que não acabaria mais.
“Mais vale prevenir que remediar”, reza um refrão da sabedoria popular, e daí porque a medicina terrena tende a ser, cada vez mais, preventiva ao invés de curativa.
Porque não haveria de ser assim, também, no universo moral?
O preceito com que abrimos este estudo não determina o fator da multiplicação dos casais, fator esse que pode e deve variar de acordo com a robustez dos genitores (principalmente da mãe, que é a mais sacrificada), seus- recursos econômicos, etc.
Assim, aos olhos de Deus, que julga segundo as intenções de cada um, é preferível ter poucos filhos e fazer deles homens de bem, a tê-los numerosos, mas abandoná-los àprópria sorte, como acontece amiúde.
Quanto aos casais que evitam ou limitam os filhos, atendendo tão só ao comodismo, obviamente se tornam tanto mais repreensíveis quanto maiores sejam as suas possibilidades de concebê-los, criá-los e educá-los.
Celibato, Poligamia e Casamento Monogâmico
Qual desses três estados o mais conforme à lei de Deus?
À luz do Espiritismo, se adotado para escapar às canseiras e responsabilidades da família, o celibato a contraria frontalmente, pois revela forte egoísmo.
Quanto ao celibato de religiosos (praticado, aliás, desde a mais remota antiguidade, entre persas e babilônicos, monges budistas e iniciados essênios, etc.), conservado em nossos dias como uma disciplina no seio da Igreja Católica Romana, tanto em suas ordens masculinas como femininas, não há como deixar de reconhecer que foi, é e será, sempre, altamente meritório, desde que, renunciando às satisfações e ao aconchego doméstico, o (a) celibatário (a) alimente o sincero propósito de melhor servir à coletividade.
Com efeito, os sacrifícios daqueles sacerdotes e freiras que, observando a castidade, se mostram capazes de total devotamento ao próximo, seja. na assistência espiritual, nas tarefas educacionais, nos serviços hospitares, em asilos, creches, orfanatos e em misteres outros, em que dão o máximo de si sem pensar em si, constituem exemplos grandiloqüentes de amor sublimado, que os eleva muito acima da craveira comum dos terrícolas.
Contudo, nem assim pode o celibato ser considerado o estado ideal, dadas as condições e as finalidades da vida neste mundo.
A poligamia, por sua vez, é um costume que, introduzido em certa época, por motivos econômicos (o aumento de braços para o trabalho grátis nos clãs), já não se justifica.
É verdade que ainda se mantém nas populações muçulmanas do Norte da África e em grande parte da Ásia, pela predominância do apetite carnal sobre o senso moral de homens ricos, que se dão ao luxo de sustentar várias esposas e numerosa prole, mas tende a desaparecer, pouco a pouco, com o aperfeiçoamento das instituições.
Tanto não corresponde aos desígnios da Providência que jamais foi possível generalizar-se, face à relativa igualdade numérica dos sexos.
A ordem natural e inerente à espécie humana é, incontestàvelmente, a monogamia, visto que, tendo por base a união constante dos cônjuges, permite se estabeleça entre ambos uma estreita solidariedade, não só nas horas de regozijo como nos momentos difíceis e dolorosos.
É ainda por esse modo que os pais podem dar aos filhos tudo o de que eles necessitam para um desenvolvimento normal, sem problemas de personalidade.
As demais formas de associação dos seres, conquanto possam ter sido autorizadas ou consentidas durante algum tempo, em determinadas circunstâncias da evolução social, de há muito que se tornaram condenáveis pelos códigos de Direito dos povos de cultura mais avançada, notadamente no mundo ocidental.
Forçoso concluir, então, ser o casamento monogâmico o instituto que melhor satisfaz aos planos de Deus, no sentido de preparar a família para uma convivência de paz, alegria e fraternidade, estado esse que há-de estender-se, no futuro, à Humanidade inteira.
Perante a Vida
Investimento sublime a vida!
Em todas as suas manifestações expressa a suprema misericórdia de Deus, num conjunto de harmonias e bênçãos.
O homem, porém, nem sempre sabe valorizar-lhe a oportunidade.
Egresso das faixas primitivas do instinto por onde transitou, guarda as altas cargas das sensações em que se demora, em detrimento dos sutis apelos da emoção cru que se engrandece, na ascese para a libertação que o aguarda.
Detivesse-se mais no acurar das observacões e descobriria a glória do bem manifesta em todo lugar.
Por descuido ou inépcia vincula-se aos compromissos vis em que se emaranha e, ao ser surpreendido pela realidade da evolução de que ninguém se evade, reage e desagrega-se, mergulhando nos lôbregos estados de dor selvagem e inútil.
A vida já dorminte no mineral, sonhando no vegetal, pensa no homem, a caminho da perfeita integração na Consciência Cósmica, quando se torna anjo.
Multiplica a alegria de viver, esparzindo tuas concessões de ventura onde te encontres.
Inobstante te descubras em dor ou em agonia, compreende que o sofrimento é processo de libertação realizando o mister onde o amor ainda não firmou alicerces.
Sofrimento não é desdita. Esta somente surge quando o homem se torna causa e razão de infortúnio para o seu próximo.
Assim, sempre podes exalçar a vida.
Estiolando-se a flor o pólen fecunda e a planta nele sobrevive.
O despedaçar de muitos anelos engendra o surgimento de formosas realizações. .
A renúncia pessoal fomenta a abnegação que levanta as realizações da ventura.
Usa a tua vida na preservação de outras muitas vidas.
Mesmo que estejas açodado pelo desespero, evita o fosso da revolta ou o paul do desânimo.
A tua vida inspira outras vidas.
Sê abnegado!
O que faças e como faças constituirá emulação para as criaturas que seguem ao teu lado.
Sem que o percebas és inspirado por alguém, motivado por outrem, a teu turno modelo para outros que te seguem em pós.
Perante a vida és co-criador junto a Nosso Pai.
Vive, pois, de tal forma que, encerrando o capítulo da tua experiência no corpo físico, prossigas logo mais, noutra expressão na vida estuante.
1.4 – Lei de Conservação
Q.711: O uso dos bens da Terra é um direito de todos os homens?
“Esse direito é conseqüente da necessidade de viver. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo.”
Q.715: Como pode o homem conhecer o limite do necessário?
Aquele que é ponderado o conhece por intuição. Muitos só chegam a conhecê-lo por experiência e à sua própria custa.” (O Livro dos Espíritos – Allan Kardec)
O instinto de conservação, por ser uma das manifestações da lei natural, é inerente a todos os seres vivos.
Maquinal entre os espécimes situados nos primeiros degraus da escala evolutiva, vai-se desenvolvendo à medida que os seres animam organismos mais complexos e melhor dotados, tornando-se, no reino hominaL, inteligente e raciocinado.
Sendo a vida orgânica absolutamente necessária ao aperfeiçoamento dos seres, Deus sempre lhes facultou os meios de conservá-la, fazendo que a terra produzisse quanto fôsse suficiente à mantença de todos os que a habitam.
Sabendo, entretanto, que, se as criaturas tivessem que usar os frutos da terra apenas em função de sua utilidade, a. lei de conservação não seria cumprida, houve Deus por bem imprimir a esse ato o atrativo do prazer, dando a cada coisa um sabor especial que lhes estimulasse o apetite.
A par disso, pela própria constituição somática com que modelou os seres, restringiu-lhes o gozo da alimentação ao limite do necessário, limite esse que, se observado, lhes asseguraria uma saúde perfeitamente equilibrada.
O homem, porém, no exercício de seu livre arbítrio, frequentemente se desmanda, cometendo toda sorte de excessos e extravagâncias, resultando daí muitas das doenças que o excruciam e o conduzem à morte, prematuramente.
Mas como nada se perde na economia da evolução, os sofrimentos decorrentes dos desregramentos que comete dão-lhe experiência, fortalecem-lhe a razão, habilitando-o, finalmente, a distinguir o uso do abuso.
Poder-se-á dizer que, em certas regiões do globo, o solo, menos fértil, não produz o bastante para a nutrição de seus habitantes e que o grande número de pessoas que nelas sucumbem vitimadas pela fome parece desmentir haja uma Providência Divina a provê-los dos recursos com que cumprirem a lei de conservação da vida.
Tais calamidades ocorrem, de fato, mas não por culpa de Deus, a quem não se pode imputar as falhas de nossa sociedade, na qual uns se regalam com o supérfluo, enquanto outros carecem do mínimo necessário.
Fôssem os homens menos egoístas, não tivessem apenas a máscara de religiosos, e, nessas contingências, prestar-se-iam mútuo apoio, já que a terra e eles mesmos pertencem a uma só familia: a Humanidade.
Além disso, cumpre aos homens aplicarem-se no estudo dos problemas que os afligem a fim de dar-lhes a devida solução, seja aperfeiçoando cada vez mais as técnicas de cultivo da gleba, de modo a conseguirem aumento de produção, seja entregando-se a pesquisas, no sentido de descobrirem outras fontes de alimentos, esforços esses que lhes engrandecerão a inteligência, assinalando novas etapas no progresso da civilização.
Aceita a. premissa de que a conservaçao da vida é um dever imposto ao homem pela lei natural, poder-se-ia. concluir que, em circunstância extremamente crítica, lhe seja lícito, para matar a fome, sacrificar um semelhante? Não! Isso fôra homicídio e crime de lesa-natureza. Em tal caso, antes morrer que matar, pois grande será o nosso merecimento se formos capazes de tão sublime renúncia por amor ao próximo.
E as privações voluntárias, observadas por alguns seguidores de várias religiões, seriam meritórias aos olhos de Deus? Contribuiriam, efetivamente, para a elevação da alma? Segundo a Doutrina Espírita, todos os usos que prejudiquem a saúde, longe de apressarem o desenvolvimento espiritual, retardam-no, pois solapam as forças vitais de seus praticantes, diminuindo-lhes a disposição para o trabalho, que sempre foi e continuará, sendo o único caminho do progresso.
Objetivando elucidar, o melhor possível, este assunto, perguntou Kardec a seus mentores: “Uma vez que não devemos criar sofrimentos voluntários, que nenhuma utilidade tenham para outrem, deveremos cuidar de preservar-nos dos que prevejamos ou nos ameacem ?“
A resposta que obteve, clara e precisa, aqui vai, como fecho de ouro a estas linhas:
“Contra os perigos e os sofrimentos é que o instinto de conservação foi dado a todos os seres. Fustigai o vosso espírito e não o vosso corpo, mortificai o vosso orgulho, sufocai o vosso egoísmo, que se assemelha a uma serpente a vos roer o coração, e fareis muito mais pelo vosso adiantamento do que infligindo-vos rigores que já não são deste século”.
Desperdícios
Há muito desperdício no mundo, fomentando larga faixa de miséria entre os homens.
O que abunda em tua mesa falta em muitos lares.
O excesso nas tuas mãos é escassez em inúmeras famílias.
O que te sobra e atiras fora, produz ausência em outros lugares.
O desperdício é fator expressivo de ruína na comunidade.
O homem, desejando fugir das realidades transcendentes da vida, afoga-se na fantasia, engendrando as “indústrias da inutilidade”, abarrotando-se com os acúmulos, padecendo sob o peso constritor da irresponsabilidade, em que sucumbe por fim.
A vida é simples nas suas exigências quase ascetas.
Muitos cristãos distraídos, porém, ataviam-se, complicam os deveres, sobrecarregam-se do dispensável, desperdiçam valores, tempo e oportunidade edificante para o próprio burilamento.
Desperdiçam palavras, amontoando-as em verbalismo inútil a fim de esconderem as verdades;
Desperdiçam tempo em repousos e férias demora dos, que anestesiam os centros combativos de ação da e alma encarnada;
Desperdiçam alimentos em banquetes, recepções, festas extravagantes com que disputam vaidades;
Desperdiçam medicamentos em prateleiras empoeiradas, aguardando, no lar, doenças que não chegarão, ou, em se apresentando, encontram-nos ultrapassados;
Desperdiçam trajes e agasalhos em armários fechados, que não voltarão a usar;
Desperdiçam moedas irrecuperáveis em jogos e abusos de todo gênero, sem qualquer recato ou zelo;
Desperdiçam a saúde nas volúpias do desejo e nas inquietações da posse com sofreguidão;
Desperdiçam a inteligência, a beleza, a cultura, a arte nos espetáculos do absurdo e da incoerência, a fim de fazerem a viagem da recuperação do que estragaram, em alucinada correria para lugar nenhum...
Não se recupera a malbaratada oportunidade.
Ninguém volta ao passado, na busca de refazê-lo, encaminhá-lo noutro rumo.
O desperdício alucina o extravagante e exaure o necessitado que se lhe faz vítima.
Há, sim, muito e incompreensível desperdício na Terra.
Reparte a tua fartura com a escassez do teu próximo.
Divide os teus recursos, tuas conquistas e vê-los-á: multiplicados em mil mãos que se erguerão louvando e abençoando as tuas generosas mãos.
Passarás pelo mundo queiras ou não. Os teus feitos ficarão aguardando o teu retorno.
Como semeares, assim recolherás.
O que desperdiçares hoje, faltar-te-á amanhã, não o duvides.
Seja pródigo sem ser perdulário, generoso sem ser desperdiçador e o que conseguires será crédito ou débito na contabilidade da tua vida perene.
1.5 – Lei de destruição
Q.728: É lei da Natureza a destruição?
“Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos.”
Q.729. Se a regeneração dos seres faz necessária a destruição, por que os cerca a Natureza de meios de preservação e conservação?
“A fim de que a destruição não se dê antes de tempo. Toda destruição antecipada obsta ao desenvolvimento do princípio inteligente. Por isso foi que Deus fez que cada ser experimentasse a necessidade de viver e de se reproduzir.”
Q. 752: Poder-se-á ligar o sentimento de crueldade ao instinto de destruição?
“É o instinto de destruição no que tem de pior, porqüanto, se, algumas vezes, a destruição constitui uma necessidade, com a crueldade jamais se dá o mesmo. Ela resulta sempre de uma natureza má.” (O Livro dos Espíritos – Allan Kardec)
Embora nos custe compreendê-lo, a destruição também se constitui lei da natureza, cumprindo um sábio desígnio providencial.
Já foi dito que a vida orgânica é indispensável à evolução dos seres, e daí haver Deus estabelecido as leis de reprodução e de conservação com o fim de, por meio delas, assegurar o desenvolvimento do princípio inteligente que neles se elabora.
Pois bem, a lei de destruição é, por assim dizer, o complemento do processo evolutivo, visto ser preciso morrer para renascer e passar por milhares de metamorfoses, animando formas corporais gradativamente mais aperfeiçoadas, e é desse modo que, paralelamente, os seres vão passando por estados de consciência cada vez mais lúcidos, até atingir, na espécie humana, o reinado da Razão.
Destarte, em última análise, “a destruição não é mais que uma transformação que tem por finalidade a renovação e a melhoria dos seres vivos.”
A parte essencial dos seres — lembram os luminares da espiritualidade — não é o envoltório físico, mas o elemento anímico que o impulsiona, elemento esse que, sendo também imortal nos animais, retorna ao palco da vida terrena para a continuação de sua jornada progressiva, como ocorre com todas as criaturas de Deus.
Sob outro prisma, ao se destruírem uns aos outros, pela necessidade de se alimentarem, os seres infra-humanos mantêm o equilíbrio na reprodução, impedindo-a de tornar-se excessiva, contribuindo, ainda, com seus despojos, para uma infinidade de aplicações úteis à Humanidade.
Restringindo o exame desta questão apenas ao procedimento do homem, que é o que mais nos interessa, aprendemos com a Doutrina Espírita que a matança de animais, bárbara sem dúvida, foi, é e será por mais algum tempo necessária aqui na Terra, devido às suas grosseiras condições de existência. À medida, porém, que os terrícolas se depurem, sobrepondo o espírito à matéria, o uso de alimentação carnívora será cada vez menor, até desaparecer definitivamente, qual se verifica nos mundos mais adiantados que o nosso.
Aprendemos, mais, que em seu estado atual o homem só é escusado dessa destruição na medida em que tenha de prover ao seu sustento e garantir a sua segurança. Fora disso, quando, p. ex., se empenha em caçadas pelo simples prazer de destruir, ou em esportes mortíferos, como as touradas, o “tiro aos pombos”, etc. terá que prestar contas a Deus por esse abuso, que revela, aliás, predominância dos maus instintos.
No que tange aos flagelos naturais, como as inundações, as intempéries fatais à produção agrícola, os terremotos, os vendavais, etc. que soem causar tantas vítimas, instruem-nos, ainda, os mentores espirituais, são acidentes passageiros no destino da Terra (mundo expiatório), que haverão de cessar no futuro, quando a Humanidade que a habite haja aprendido a viver segundo os mandamentos de Deus, pautados no Amor, dispensando, então, os corretivos da Dor.
Uma vez que a destruição se nos apresenta como uma lei natural, a pena de morte aplicada alhures, com o objetivo de eliminar os elementos tidos como perigosos, será também uma necessidade?
Não! “O homem julga necessária uma coisa, sempre que não descobre outra mais conveniente. À proporção que se instrui, vai compreendendo melhormente o que é justo e o que é injusto e repudia os excessos cometidos nos tempos de ignorância, em nome da justiça”, dizem-nos as vozes do Mundo Maior.
Com efeito, há muitos outros meios com provadamente mais eficazes de preservar a sociedade, do que o assassínio daqueles que a prejudicam, mesmo porque todo delinqüente é um enfermo da alma, e aos enfermos deve-se acudir com a medicina e não com a morte.
A propósito, cumpre se diga que, graças ao progresso social, diminuiu consideràvelmente o número de povos e dos casos em que tal pena continua em vigor, e dia virá em que será completamente abolida.
O Assassínio
Em pleno século 20, homens existem que ainda defendem com ardor a pena capital para certos criminosos e, em vários casos, o direito de matar.
Via de regra, argumentam que o sexto mandamento não pode ser interpretado em sentido absoluto, já que o próprio Deus teria estatuído uma série de circunstâncias e de motivos em que o assassínio seria não apenas lícito, mas até aconselhável ou necessário.
Surgem, então, citações do Velho Testamento quais as seguintes: “Se algum boi investir contra (escornear) homem ou mulher, que morra, será apedrejado, e não se comerão as suas carnes; o dono do boi, contudo, será inocente. Mas se o boi já era escorneador e o seu dono foi conhecedor disso e não o encurralou, matando homem ou mulher, o boi será apedrejado e também o seu dono morrerá.”
“A feiticeira não deixarás viver.”
“Todo aquele que se deitar com animal, morrerá.”
“O que sacrificar aos deuses, e não só ao Senhor, será morto.” (Êxodo)
“Se um homem tiver um filho contumaz e insolente, que não está pelo que seu pai e sua mãe lhe ordenam, e, castigado, recusar com desprezo obedecer-lhes, pegarão nele e o levarão aos anciães daquela cidade e, à porta onde se fazem os juízos, lhes dirão: Este nosso filho é rebelde e contumaz, despreza as nossas admoestações, passa a vida em comezainas, dissoluções e banquetes. O povo da cidade o apedrejará e ele morrerá, para que assim tireis o mal do meio de vós. (Deut.)
Ainda segundo o Velho Testamento, Moisés teria recebido, diretamente de Deus, ordens tachativas e peremptórias para eliminar os transgressores da fé judaica e os adversários do povo judeu, como se vê nos seguintes excertos:
“Estando os filhos de Israel no deserto, acharam um homem apanhando lenha no dia de sábado, o qual foi metido em prisão, porque ainda não se sabia o que deviam fazer com ele. Disse então o Senhor a Moisés: Este homem morra de morte, todo o povo o apedreje fora do arraial. Toda a congregaçao o lapidou, e o tal homem morreu, como o Senhor ordenara a Moisés.” (Números, capítulo 15 versículos 32 a 36.)
“Das cidades destas nações que o Senhor teu Deus te dá em herança, nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida, antes destruí-las-ás, para que não vos ensinem as abominações que fizeram a seus deuses e pequeis contra o Senhor vosso Deus.” (Deut.)
Não é de se admirar, portanto, que, seguindo à risca tais prescrições, os reis de Israel tenham praticado os crimes mais horripilantes.
Uma pequena amostra: “Ajuntou David todo o povo e marchou contra Rabbath: e depois de combatida, a tomou... E trazendo os seus moradores, os mandou serrar, e que passassem por cima deles carroças ferradas, e que os fizessem em pedaços com cutelos, e os botassem em fornos de cozer tijolo. Assim o fêz com todas as cidades dos amonitas, etc.” (II Reis, 12: 29-31.)
Se tais sentenças procedessem realmente de Deus — agora somos nós que o dizemos não haveria porque hesitarmos na prática de qualquer assassínio, visto que o (mau) exemplo viria de cima.
Já é tempo, entretanto, de sabermos que tudo o que se contém na. Bíblia, em contraposição ao Decálogo, não é e nem poderia ser de origem divina, mas tão sômente preceitos humanos, quase sempre outorgados por Moisés para o povo judeu e para aquela época de ignorância e barbarismo.
Tanto assim que o Cristo, várias vezes, após fazer referência a eles, acrescentava: “eu, porém, vos digo”, e se punha a ensinar coisas diametralmente opostas.
Efetivamente, Aquele que ditou o NÃO MATARÁS e “em quem não há mudança nem sombra de variação”, segundo o apóstolo Tiago, não poderia contradizer-se, ordenando alhures: “mata, destrói, extermina!”
Não se encontra, em todo o Evangelho, uma só passagem que autorize o uso da violência, nem mesmo uma palavra ofensiva, quanto mais o assassínio!
E a Doutrina Espírita, em tudo conforme com a moral cristã, proclama que, mesmo quando agredido e em situação extremamente difícil, cabe ao homem apenas o direito de defender-se, de modo que possa preservar sua vida, nunca o de atentar contra a de seu agressor, pois, qualquer que seja a hipótese, é preferível morrer a ter que matar.
A Pena de Talião
Pode parecer à primeira vista que justiça e misericórdia sejam virtudes antagônicas, que se excluam reciprocamente.
Daí a razão de muitos não compreenderem como possa Deus exercitá-las, sem que uma precise ser anulada para que a outra prevaleça.
Tudo, entretanto, se torna claro quando nos lembramos de que as boas qualidades morais são filhas do Amor e que este sentimento sublime sempre encontra meios de harmonizá-las.
Senão, vejamos.
A Justiça exige que toda infração à Lei seja punida e desde a origem dos tempos isso tem acontecido, infalivelmente.
Aliás, todos os grandes missionários religiosos que têm vindo à Terra, inspirados que foram pelo Alto, estabeleceram em seus códigos a pena de talião, ou seja, castigo igual à culpa.
O “olho por olho e dente por dente”, de Moisés, p. ex., e o “quem com espada fere, com espada será ferido”, do Cristo, são preceitos que consagram esse princípio fundamental da Justiça.
Moisés, todavia, dava ao ofendido o direito de tirar desforra, pessoalmente e na proporção da ofensa recebida, enquanto o Cristo, surgindo entre nós quando era chegado o momento de os terrícolas darem início a uma fase mais avançada de sua evolução espiritual, trouxe como missão ensiná-los a quebrar as cadeias do mal a que se jungiam pela lei de ação e reação.
Introduziu nas relações humanas, então, uma nova ética: “amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos têm ódio e orai pelos que vos perseguem e caluniam”, exemplificando-a, ele mesmo, até às últimas consequências.
Não deixou, porém, de adverti-los, mui explicitamente: “Se perdoardes aos outros as faltas que cometerem contra vós, também vosso Pai celestial vos perdoará os pecados, mas, se não lhes perdoardes quando vos tenham ofendido, tão-pouco vosso Pai celestial vos perdoará os pecados.”
Analisando, a fundo, estas novas regras de conduta, percebe-se conterem elas a mesma justiça da pena de talião, com a diferença de que, ao invés de “castigo igual à culpa”, acenam com “premio igual ao merecimento”.
Reparemos bem:
Aquele que revida ao seu ofensor com igual ofensa, está exercendo a justiça, cobrando o que lhe devem, mas, por sua vez, terá de pagar na. mesma moeda toda injúria que fizer a outrem.
Já aquele que perdoa as ofensas recebidas, fica com um crédito do mesmo valor na contabilidade celeste, crédito esse que será levado em conta quando lhe aconteça cometer alguma falta. E quem não está sujeito a errar?
Por haver entendido perfeitamente esse mecanismo da Justiça Divina é que o colégio apostólico proclamava, amiúde: “suportai-vos uns aos outros”, “tende entre vós mútua caridade”, “o amor cobre uma multidão de pecados”, etc.
Talvez nos perguntem: no segundo caso, sendo o ofensor perdoado pelo ofendido, ficará sem a punição devida?
Absolutamente! A Providência cuidará disso e, seja na mesma existência ou em outra(s) posterior(es), ele “sofrerá o que tenha feito sofrer”, não porque apraza a Deus castigar os culpados, mas para que todos se corrijam, progridam e sejam felizes. E é assim, deixando-nos experimentar os funestos resultados de nossas más ações, bem como nos ensejando a oportunidade de emendar-nos através das vidas sucessivas, que Deus se revela, a um só tempo, soberanamente justo e misericordioso, como convém Àquele que é o Santo do santos.
Quando transportarmos para a vida prática os luminosos ensinamentos do Cristo, preferindo perdoar a usar de represálias, retribuindo ao mal com o bem, a paz e a alegria farão morada permanente em nossos corações, valendo isso dizer que já estaremos adentrando “o reino dos céus”.
1.6 – Lei de Progresso
Q.780: O progresso moral acompanha sempre o progresso intelectual?
“Decorre deste, mas nem sempre o segue imediatamente.”
Q.792:. Porque não efetua a civilização, imediatamente, todo o bem que poderia produzir?
“Porque os homens ainda não estão aptos nem dispostos a alcançá-lo.”
(O Livro dos Espíritos – Allan Kardec)
Segundo a Teologia, o homem fora justo, puro, feliz, e assim poderia ter-se mantido por toda a eternidade. Tentado, por satanás, desobedeceu ao Criador, sofrer, em consequência desse grave a privação da graça, a perda do paz ignorância, a inclinação para o mal, a toda a sorte de misérias do corpo e da alma.
Em outras palavras, isso quer dizer o gênero humano teria surgido na Terra perfeito, ou quase, mas depois se degradou até quem opine que se vem tornando cada vez pior.
A Doutrina Espírita, ao contrário, que o progresso é lei natural, cuja ação sentir em tudo no Universo, não sendo admissível, por conseguinte, possa o homem frustra-la ou contrapor-se-lhe.
Com efeito, impulsionado por ela, lo haver “decaído”, “o rei da criação” foi perdendo, ao longo dos séculos, as ferezas do troglodita, a amoralidade do bárbaro, a insipiência do selvagem, num desenvolvimento intelecto-moral vagaroso, mas seguro e ininterrupto, eis que, “imagem e semelhança de Deus”, está fadado a adquirir todos os conhecimentos da Sabedoria e todas as virtudes da Santidade.
Claro que ele se encontra, ainda, bastante distanciado dessa perfeição, mas quem quer que conheça um pouquinho de história da civilização, não pode deixar de reconhecer o enorme avanço, não só na técnica como nos costumes, que conseguiu realizar.
É verdade, sim, que o seu progresso moral se acha muito aquém do fabuloso progresso intelectual a que chegou, e daí porque prevalece, em nossos dias, uma ciência sem consciência, valendo-se, não poucos, de suas aquisições culturais, apenas para a prática do mal.
Os funestos resultados do mau emprego de sua inteligência recairão, porém, fatalmente, sobre si mesmo, arrancando-lhe “sangue, suor e lágrimas” em crescente profusão, até que, trabalhado pela Dor, ganhará experiência, aprendendo então a equilibrar as forças da mente e do coração, como lhe convém, para que sua marcha ascensional se efetue sem quedas nem desvios.
É verdade, também, que o egoísmo e o orgulho, inspiradores de muitas da leis iníquas em vigência neste mundo, favorecendo os poderosos em prejuízo dos fracos, podem retardar, como efetivamente têm retardado, a prosperidade e o bem-estar comuns.
É que a Providência, para dar ao homem o mérito de elevar-se pelo próprio esforço e livre iniciativa, sempre lhe concede moratória para que corrija e aperfeiçoe suas instituições, visando àquele objetivo.
***
O progresso, para ser legítimo, não pode prescindir da elevação moral dos homens, que se haure no Evangelho, sempre atual.
As conquistas da inteligência, embora valiosas, sem a santificação dos sentimentos, conduzem ao desvario e à destruição.
Para serem autênticas as aquisições humanas, devem alicerçar-se nos valores éticos, sem os quais o conhecimento se converte em vapor tóxico que culmina por aniquilar quem o detém.
Estudo, pesquisa, sim, mas amor também.
Examinando a problemática da evolução, os Mensageiros encarregados da Codificação Espírita foram taxativos: “Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.”
Nem o amor sem equilíbrio, arrebatamento que revela paixão e desconserto interior, nem a instrução intelectual sem o conteúdo de amor, a transformar-se em vapor alucinante de vaidades perniciosas quão destrutivas.
Sem o equilíbrio das duas asas a ave não consegue voar, plainando nas alturas.
Amor e conhecimento são as asas harmoniosas para o progresso do homem e dos povos, progresso que, não obstante as paixões nefastas ainda predominantes na natureza animal do homem, será impossível de ser alcançado.
Inexoravelmente o homem avança e sem apelação crescem as sociedades na direção da felicidade, porque é da Lei que o espírito jamais retrocede, progredindo sempre e com ele a sociedade humana, representada pelas nações, evoluindo sem cessar.
1.7 – Lei de Sociedade
Q.766: A vida social está na Natureza?
“Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação.”
Q.768: Procurando a sociedade, não fará o homem mais do que obedecer a um sentimento pessoal, ou há nesse sentimento algum providencial objetivo de ordem mais geral?
“O homem tem que progredir. Sozinho, ele não pode porque não têm todas as faculdades. Falta-lhe o contacto com os outros homens. No isolamento, ele se embrutece e se debilita.”
Q. 775: Qual seria, para a sociedade, o resultado do relaxamento dos laços de família?
“Uma agravamento do egoísmo.”
(O Livro dos Espíritos – Allan Kardec)
O homem, inquestionavelmente, é um ser gregário, organizado pela emoção para a vida em sociedade.
O seu insulamento, a pretexto de servir a Deus. constitui uma violência à lei natural, caracterizando-se por uma fuga injustificável às responsabilidades do dia-a-dia.
Graças à dinâmica da atualidade, diminuem as antigas incursões ao isolacionismo, seja nas regiões desérticas para onde o homem fugia a buscar meditação, seja no silêncio das clausuras e monastérios onde pensava perder-se em contemplação.
O Cristianismo possui o extraordinário objetivo de criar uma sociedade equilibrada, na qual todos os seus membros sejam solidários entre si.
Negar o mundo do conceito evangélico, não significa abandoná-lo, antes criar condições novas, a fim de modificar-lhe as estruturas negativas e egoísticas, engendrando recursos que o transformem em reduto de esperança, de paz, perfeito símile do “reino dos céus”, a que se reportava Jesus.
A vivência cristã se caracteriza pelo clima de convivência social em regime de fraternidade, no qual todos se ajudam e se socorrem, dirimindo dificuldades e consertando problemas.
Viver o Cristo é também conviver com o próximo, aceitando-o conforme suas imperfeições, sem constituir-lhe fiscal ou pretender corrigi-lo, antes acompanhando-o com bondade, inspirando-o ao despertamento e à mudança de conduta de modo proprio.
A reforma pessoal de alguém inspira confiança, gera simpatia, modifica o meio e renova os cômpares com quem cada um se afina.
Isolar-se, portanto, a pretexto de servir ao bem não passa de uma experiência na qual o egoísmo predomina, longe da luta que forja heróis e constrói os santos da abnegação e da caridade.
Criaturas bem intencionadas sonham com comunidades espiritualizadas, perfeitas, onde se possa viver em regime da mais pura santificação.
Assim tocadas programam colméias, organizam comitês para tal fim, e os mais ambiciosos laboram por cidades onde o mal não exista e todos se amem. .
Em verdade, tal ambição, nobre por enquanto impraticável senão totalmente irrealizável, representa uma reminiscência ancestral das antigas comunidades religiosas onde o atavismo criou necessidades de elevação num mundo especial, longe das realidades objetivas entre os homens em evolução.
Jesus, porém, deu-nos o exemplo.
Desceu das Regiões Felizes ao vale das aflições, a fim de ajudar.
Não convocou os privilegiados, antes convidou os infelizes, os rebeldes e rejeitados, suportando suas mazelas e assim mesmo os amando.
No Colégio íntimo esteve a braços com as sistemáticas dúvidas dos amigos, suas ambições infantis, suas querelas frívolas, suas disputas.
Não se afastou deles, embora suas imperfeições, não se rebelou contra eles.
Ajudou-os, íncansavelmente, até os momentos extremos, quando, sofrendo, no Getsemani, surpreendeu-os, mais de uma vez, a dormir.
E retornou ao convívio deles, quando atemorizados, a sustentá-los e animá-los, a fim de que não deperecessem na fé, nem na dedicação em que se fizeram mais tarde dignos do seu Mestre, em face dos testemunhos libertadores a que se entregaram.
Amizades e Afeições
Não apenas a simpatia como ingrediente único para facultar que os afagos da amizade te adornem e elevem o espírito.
Muito fácil ganhar como perder amigos. Talvez difícil se apresente a tarefa de sustentar amizades, ao invés de somente consegui-las.
O magnetismo pessoal é fator importante para promover a aquisição de afetos. Todavia, se o comportamento pessoal não se padroniza e sustenta em diretrizes de enobrecimento e lealdade, as amizades e afeições não raro se convertem em pesada canga, desagradável parceria que culmina em clima de animosidade, gerando futuros adversários.
Nesse particular existem pequenos fatores que não podem nem devem ser relegados a plano secundário, a fim de que sejam mantidas as afeições.
A planta não irrigada sucumbe sob a canícula.
O grão não sepulto morre.
O lume sem combustível se apaga.
A máquina sem graxa arrebenta-se.
Assim, também, a amizade que sem o sustento da cortesia e da gentileza se estiola.
Se desejas preservar teus amigos não creias consegui-lo mediante um curso de etiqueta ou de boas maneiras, com que muitas vezes a aparência estudada, artificial, substitui ou esconde os sentimentos reais. Os impositivos evangélicos que te apliques, ser-te-ão admiráveis técnicas de autenticidade, que funcionam como recurso valioso para a sustentação do bem em qualquer lugar, em toda situação, com qualquer pessoa.
A afabilidade, a doçura, a gentileza de alguém, aparentemente destituído de simpatia conseguem propiciar a presença de amigos, retê-los e torná-los afetos puros para sempre.
Amizades se desagregam ou se desgastam exatamente após articuladas, no período em que os consórcios fraternos se descuidam de mantê-las.
E isto normalmente ocorre, como conseqüência de atitudes que se podem evitar: o olhar agressivo;
A palavra ríspida;
O atendimento hostil ou negligente;
A lamentação constante;
A irreverência acompanhada pela frivolidade;
A irritação contínua;
A queixa contumaz;
O pessimismo vinagroso.
Os amigos são companheiros que também têm problemas. Por essa razão se acercam de ti.
Usa, no trato com eles, quanto possível, a bondade e a atenção, a fim de que, um dia, conforme Jesus enunciou: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor; mas, tenho-vos chamado amigos, porque vos revelei tudo quanto ouvi de meu Pai”, tornando-te legítimo amigo de todos, conseqúentemente fruindo as bênçãos da amizade e da afeição puras.
1.8 – Lei de Igualdade
Q.803: Perante Deus, são iguais todos os homens?
“Sim, todos tendem para o mesmo fim e Deus fez suas leis para todos. Dizeis freqüentemente: ‘O Sol luz para
todos’ e enunciais assim uma verdade maior e mais geral do que pensais.”
Todos os homens estão submetidos às mesmas leis da Natureza. Todos nascem igualmente fracos, acham-se sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Deus a nenhum homem concedeu superioridade natural, nem pelo nascimento, nem pela morte: todos, aos seus olhos, são iguais.
Q.806: É lei da Natureza a desigualdade das condições sociais?
Não; é obra do homem e não de Deus.”
(O Livro dos Espíritos – Allan Kardec)
Ensina a Doutrina Espírita que, perante Deus, todos os homens são iguais, pois tiveram o mesmo princípio e destinam-se, sem exceção, ao mesmo fim: a glória e a felicidade.
As dissemelhanças que apresentam entre si, quer em inteligência, quer em moralidade, não derivam da natureza íntima deles; resultam apenas de haverem sido criados há mais ou há menos tempo e do maior ou menor aproveitamento desse tempo, no desenvolvimento das aptidões e virtudes que lhes são intrínsecas, consoante o bom ou o mau uso do livre arbítrio por parte de cada um.
Essa igualdade absoluta dos homens perante Deus seria válida também em Sociologia?
“Não; nem é possível. A isso se opõe a diversidade das faculdades e dos caracteres”, já o disseram, há mais de um século, as vozes que ditaram a Kardec os delineamentos filosóficos do Espiritismo.
A ambição e a inveja de uns, somadas ao idealismo irrefletido de outros, fazem que muitos sonhem com uma quimérica igualdade das riquezas, que, se chegasse a concretizar-se, “seria desfeita a curto prazo pela força das coisas” —, acrescentaram, ainda, aquelas mesmas vozes.
Não se infira daí que as falhas de nossa estrutura sócio-econômica, responsáveis por tantos sofrimentos, não devam ser sanadas. Pelo contrário, todos devemos lutar para que as instituições terrenas se aperfeiçoem, permitindo alcancemos uma situação tal em que caiam os privilégios de casta ou de nascimento; extingam-se os preconceitos de cor, de raça e de crença; haja oportunidades educacionais para quantos as desejem, indistintamente; as sanções penais não recaiam tão somente sobre os fracos; a mão-de-obra seja associada e não escrava do capital, etc.
O melhor meio de atingirmos esse objetivo, todavia, não é a subversão da sociedade, o que retardaria o progresso e o bem-estar coletivos, mas sim. a cristianização do homem, levando-o ao cumprimento exato de seus deveres para consigo mesmo, para com o próximo e para com Deus, incutindo-lhe, outrossim, serena e inabalável confiança nos desígnios da Providência, que não desampara ninguém e, malgrado certas aparências enganadoras, a todos retribui de conformidade com seus méritos, através do mecanismo das vidas sucessivas.
Urge compreendamos que, qualquer que seja a posição em que se achem situados, “todos os homens são proletários da evolução” e que a diversidade de funções no complexo social é tão indispensável à sua harmonia quanto as variadas finalidades dos órgãos o são ao equilíbrio de nosso organismo.
“Que os trabalhadores da direção saibam amar e que os da realização nunca odeiem”, tal a equação oferecida pelo Evangelho à problemática social.
Quando o egoísmo e o orgulho deixarem de ser os sentimentos predominantes na Terra; quando compreendermos que somos todos irmãos, amando-nos realmente uns aos outros como preceitua a Religião; todo homem de boa vontade achará ocupação adequada às suas aptidões, que lhe garanta o mínimo necessário a uma vivência compatível com a dignidade humana, e mesmo aqueles que não mais possam manter-se em atividade, por doença ou velhice, terão a seu favor o amparo da lei, sem que precisem humilhar-se, recorrendo àcaridade pública.
Beneficiados pela lei de Deus, que nos assinalou um só e único destino, busquemos, todos, conquistar a Sabedoria e o Amor, razão teleológica de nossa existência, dedicando-nos ao trabalho e à prática do Bem, guardando a certeza de que, embora momentâneamente colocados em diferentes planos na paisagem social da Terra, em atenção às necessidades evolutivas de cada qual, todos caminhamos para um estado de justiça perfeita, o que vale dizer
— todos haveremos de sentir, um dia, o “reino do céu” dentro de nossos próprios corações.
1.9 – Lei de Liberdade
Q.825: Haverá no mundo posições em que o homem possa se vangloriar de gozar de absoluta liberdade?
“Não, porque todos necessitais uns dos outros, assim os pequenos como os grandes.”
Q.826: Em que condições poderia o homem gozar de absoluta liberdade?
“O eremita no deserto. Desde que juntos estejam dois homens, há entre eles direitos recíprocos que lhes cumpre respeitar; não mais, portanto, qualquer deles goza de liberdade absoluta.”
Q.827: A obrigação de respeitar os direitos alheios tira ao homem o de pertencer-se a si mesmo?
“De modo algum, porquanto este é um direito que lhe vem da natureza.”
(O Livro dos Espíritos – Allan Kardec)
O homem é, por natureza, dono de si mesmo, isto é, tem o direito de fazer tudo quanto achar conveniente ou necessário à conservação e ao desenvolvimento de sua vida.
Essa liberdade, porém, não é absoluta, e nem poderia sé-lo, pela simples razão de que, convivendo em sociedade, o homem tem o dever de respeitar esse mesmo direito em cada um de seus semelhantes.
Isto posto, todo e qualquer costume, que torne uma pessoa completamente sujeita a outra, constitui uma iniquidade contrária à lei de Deus.
Durante muito tempo, aceitou-se, como justa, a escravização dos povos vencidos em guerras, assim como foi permitido, pelos códigos terrenos, que homens de certas raças fôssem caçados e vendidos, quais bestas de carga, na falsa suposição de que eram seres inferiores e, talvez, nem fôssem nossos irmãos em humanidade.
Coube ao Cristianismo mostrar que, perante Deus, só existe uma espécie de homens e que, mais ou menos puros e elevados eles o são, não pela cor da epiderme ou do sangue, mas pelo espírito, isto é, pela melhor compreensão que tenham das coisas e principalmente pela bondade que imprimam em seus atos.
Felizmente, de há muito que a escravatura foi abolida e, com ela, o privilégio que tinha o senhor de poder maltratar impunemente o escravo, ou mesmo matá-lo, se assim lhe aprouvesse.
Agora, todos somos cidadãos, podendo dispor, livremente, de nossos destinos.
A liberdade de pensamento e a de consciência, por se inscreverem, também, entre os direitos naturais do homem, conquanto padeçam, ainda, aqui, ali e acolá, certas restrições e repressões, vêm alcançando, igualmente, notáveis progressos.
De século para século, menos dificuldade encontra o homem para pensar sem obstáculos e, a cada geração que surge, mais amplas se tornam as garantias individuais no que tange à inviolabilidade do foro íntimo.
Nas dissensões religiosas, as chamas das fogueiras foram substituidas pelas luzes do esclarecimento, e na catequese filosófica ou política, estejamos certos, daqui para o futuro, buscar-se-á empregar, cada vez mais, a força da persuasão ao invés da imposição pela força.
Sem dúvida, estamos ainda muito distantes de uma vivência mundial de integral respeito às liberdades humanas; todavia, já as aceitamos como um ideal a ser atingido, e isso é um grande passo, pois tal concordância há-de levar-nos, mais dia, menos dia, a esse estado de paz e de felicidade a que todos aspiramos.
Direito de Liberdade
Intrinsecamente livre, criado para a vida feliz, o homem traz, no entanto, ínsitos na própria consciência, os limites da sua liberdade.
Jamais devendo constituir tropeço na senda por onde avança o seu próximo, é-lhe vedada a exploração de outras vidas sob qualquer argumentação, das quais subtraia o direito de liberdade.
Sem dúvida, centenas de milhões de seres transitam pela infância espiritual, na Terra, sem as condições básicas para o auto-discernimento e a própria condução. Apesar disso, a ninguém é lícito aproveitar-se da circunstância, a fim de coagir e submeter os que seguem na retaguarda do progresso, antes competindo aos melhor dotados e mais avançados distender-lhes as mãos, em generosa oferenda de auxílio com que os educarão, preparando-os para o avanço e o crescimento.
Liberdade legítima decorre da legítima responsabilidade, não podendo aquela triunfar sem esta.
A responsabilidade resulta do amadurecimento pessoal em torno dos deveres morais e sociais, que são a questão matriz fomentadora dos lídimos direitos humanos.
Pela lei natural todos os seres possuímos direitos, que, todavia, não escusam a ninguém dos respectivos contributos que decorrem do seu uso.
A toda criatura é concedida a liberdade de pensar, falar e agir, desde que essa concessão subentenda o respeito aos direitos semelhantes do próximo.
Desde que o uso da faculdade livre engendre sofrimento e coerção para outrem, incide-se em crime passível de cerceamento daquele direito, seja por parte das leis humanas, sem dúvida nenhuma através da Justiça Divina.
Graças a isso, o limite da liberdade encontra-se inscrito na consciência de cada pessoa, que gera para si mesma o cárcere de sombra e dor, a prisão sem barras em que expungirá mais tarde, mediante o impositivo da reencarnação, ou as asas de luz para a perene harmonia.
Prega e vive o amor conforme o ensinou Jesus.
Ensina e usa a verdade em torno da vida em triunfo, de que está referto o Evangelho, a fim de seres livre.
Atém-te aos deveres que te ensinam engrandecimento e serviço ao próximo.
O trabalho pelos que sofrem limites e tumultos ensinar-te-á auto-conhecimento, favorecendo-te com o júbilo de viver e a liberdade de amar.
Na violência trágica do Gólgota não vemos um vencido queixando-se, esbravejando impropérios e explodindo em revolta. Sua suprema sujeição e seu grandioso padecimento sob o flagício da loucura dos perseguidores gratuitos atingem o clímax no brado de perdão a todos: ingratos, cruéis, insanos, em insuperável ensinamento sobre a liberdade de pensar, falar e agir com a sublime consciência responsável pelo dever cumprido.
O Livre Arbítrio
O livre arbítrio é definido como “a faculdade que tem o indivíduo de determinar a sua própria conduta”, ou, em outras palavras, a possibilidade que ele tem de, “entre duas ou mais razões suficientes de querer ou de agir, escolher uma delas e fazer que prevaleça sobre as outras”.
Problema fundamental da Filosofia ética e psicológica, vem sendo estudado e discutido acaloradamente desde os primeiros séculos de nossa era, dando ensejo a que se formulassem, a respeito, várias doutrinas díspares e antagônicas até.
Acham alguns que o livre arbítrio é absoluto, que os pensamentos, palavras e ações do homem são espontâneos e, pois, de sua inteira responsabilidade.
Evidentemente, laboram em erro, porqüanto não há como deixar de reconhecer as inúmeras influências e constrangimentos a que, em maior ou menor escala, estamos sujeitos, capazes de condicionar e cercear a nossa liberdade.
No extremo oposto, três correntes filosóficas existem que negam decisivamente o livre arbítrio: o fatalismo, o predestinacionismo e o determinismo.
Os fatalistas acreditam que todos os acontecimentos estão prêviamente fixados por uma causa sobrenatural, cabendo ao homem apenas o regozijar-se, se favorecido com uma boa sorte, ou resignar-se, se o destino lhe for adverso.
Os predestinacionistas baseiam-se na soberania da graça divina, ensinando que desde toda a eternidade algumas almas foram predestinadas a uma vida de retidão e, depois da morte, à bem-aventurança celestial, enquanto outras foram de antemão marcadas para uma vida reprovável e, consequentemente, precondenadas às penas eternas do inferno. Se Deus regula, antecipadamente, todos os atos e todas as vontades de cada indivíduo — argumentam —, como pode este indivíduo ter liberdade para fazer ou deixar de fazer o que Deus terá decidido que ele venha a fazer?
Estas duas doutrinas, como se vê, reduzem o homem a simples autômato, sem mérito nem responsabilidade, ao mesmo tempo que rebaixam o conceito de Deus, apresentando-O àfeição de um déspota injusto, a distribuir graças a uns e desgraças a outros, ünicamente ao sabor de seu capricho. Ambas repugnam às consciências esclarecidas, tamanha a. sua aberração.
Os deterministas, a seu turno, sustentam que as ações e a conduta do indivíduo, longe de serem livres, dependem integralmente de uma série de contingências a que ele não pode furtar-se, como os costumes, o caráter e a indole da raça a que pertença; o clima, o solo e o meio social em que viva; a educação, os princípios religiosos e os exemplos que receba; além de outras circunstâncias não menos importantes, quais o regime alimentar, o sexo, as condições de saúde, etc.
Os fatores apontados acima são, de fato, incontestáveis e pesam bastante na maneira de pensar, de sentir e de proceder do homem.
Assim, por exemplo, diferenças climáticas, de alimentação e de filosofia, fazem de hindus e americanos do norte tipos humanos que se distinguem profundamente, tanto na complexão física, no estilo de vida, como nos ideais; via de regra, a fortuna nos torna soberbos, enquanto a necessidade nos faz humildes; um dia claro e ensolarado nos estimula e alegra, contràriamente a uma tarde sombria e chuvosa, que nos deprime e entristece; uma sonata romântica nos predispõe à ternura, ao passo que os acordes marciais nos despertam ímpetos belicosos; quando jovens e saudáveis, estamos sempre dispostos a cantar e a dançar, já na idade provecta, preferimos a meditação e a tranqüilidade, etc.
Daí, porém, a dogmatizar que somos completamente governados pelas células orgânicas, de parceria com as impressões, condicionamentos e sanções do ambiente que nos cerca, vai uma distância incomensurável.
Com efeito, há em nós uma força íntima e pessoal que sobreexcede e transcende a tudo isso: nosso “eu” espiritual!
Esse “eu”, ser moral ou alma (como quer que lhe chamemos), numa criatura de pequena evolução espiritual, realmente pouca liberdade tem de escolher entre o bem o mal, visto que se rege mais pelos instintos do que pela inteligência ou pelo coração. Mas, à medida que se esclarece, que domina suas paixões e desenvolve sua vontade nos embates da Vida, adquire energias poderosíssimas que o tomam cada vez mais apto a franquear obstáculos e limitações, sejam de que natureza forem. Não é só. Habilita-se também a pesar as razões e medir conseqüências, para decidir sempre pelo mais justo, embora desatendendo, muitas vezes, aos seus próprios desejos e interesses.
Um dia, como o Cristo, poderá afirmar que já venceu o mundo, pois, mesmo faminto, terá a capacidade de, voluntàriamente, abster-se de comer; conquanto rudemente ofendido, saberá refrear sua cólera e não revidar à ofensa; e, ainda que todos ao seu derredor estejam em pânico, manterá, imperturbável, sua paz interior.
Fatalidade e Destino
Fatalidade e destino são dois termos que se empregam, amiúde, para expressar a força determinante e irrevogável dos acontecimentos da vida, bem assim o arrastamento irresistível do homem para tais sucessos, independentemente de sua vontade.
Estaríamos nós, realmente, à mercê dessa força e desse arrastamento?
Raciocinemos:
Se todas as coisas estivessem previamente determinadas e nada se pudesse fazer para impedi-las ou modificar-lhes o curso, a criatura humana se reduziria a simples máquina, destituída de liberdade e, pois, inteiramente irresponsável.
Subseqüentemente, os conceitos de Bem e Mal ficariam sem base, tornando nulo todo e qualquer princípio ditado pela Moral.
Ora, é evidente que, quase sempre, nossas decepções, fracassos e tristezas decorrem, não de nossa “má estrela”, como acreditam os supersticiosos, mas pura e simplesmente de nossa maneira errônea de proceder, de nossa falta de aptidão para conseguir o que ambicionamos, ou por uma expectativa exageradamente otimista sobre o que este mundo nos possa oferecer.
Importa reconhecermos, entretanto, que, embora grande parte daquilo que nos acontece sejam consequências naturais de atos consciente ou inconscientemente praticados por nós, ou por outrem, com ou sem a intenção de atingir-nos, vicissitudes, desgostos e aflições há que nos alcançam sem que possamos atribuir-lhes uma causa cognoscível, dentro dos quadros de nossa existência atual.
Sirvam-nos de exemplo certos acidentes pessoais, determinadas doenças e aleijões, desastres financeiros absolutamente imprevisíveis, que nenhuma providência nossa ou de quem quer que seja teria podido evitar, ou o caso de pessoas duramente feridas em suas afeições ou cujos reveses cruéis não dependeram de sua inteligência, nem de seus esforços.
As doutrinas que negam a pluralidade das existências, impossibilitadas de apresentar uma explicação satisfatória para essa importante questão, limitam-se a dizer que os desígnios de Deus são imperscrutáveis, ou a recomendar paciência e resignação aos desgraçados, como se isso fôsse suficiente para saciar a sede das mentes perquiridoras e tranquilizar os corações dilacerados pela dor.
A Doutrina Espírita, ao contrário, com a chave da reencarnação, faz-nos compreender claramente o porquê de todos os problemas relacionados com a nossa suposta “má sorte”.
Os acontecimentos que nos ferem e magoam, no corpo ou na alma, sem causa imediata nem remota nesta vida, longe de se constituírem azares da fatalidade ou caprichos de um destino cego, são efeitos da Lei de Retorno, pela qual cada um recebe de volta aquilo que tem dado.
Em anterior(es) existência(s), tivemos a, faculdade de escolher entre o amor e o ódio, entre a virtude e o vicio, entre a justiça e a iniquidade; agora, porém, temos que sofrer, inexoràvelmente, o resultado de nossas decisôes, porque “a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória”.
Quando assim não seja, as dificuldades e os sofrimentos por que passamos fazem parte das provas por nós mesmos escolhidas, antes de reencarnarmos, com o objetivo de desenvolver esta ou aquela boa qualidade de que ainda nos ressentimos, ativando, destarte, nosso aperfeiçoamento, a fim de merecermos acesso a planos mais felizes onde a paz e a harmonia reinam soberanamente.
Em suma, algumas circunstâncias graves, capazes de ensejar nosso progresso espiritual, podem, sim, ser fatais; mas já vimos que somos nós próprios, no exercício do livre arbítrio, que Lhes geramos as causas determinantes.
Nosso presente nada mais é, portanto, que o resultado de nosso passado, assim como nosso futuro está sendo construído agora, pelos pensamentos, palavras e ações de cada momento.
Tratemos, então, de dignificar nossa presença à face da Terra, agindo sempre em conformidade com as leis divinas, para que nossas agruras de hoje se transformem, amanhã, sômente em bênçãos e alegrias, bem-estar e tranquilidade.
1.10 – Lei de justiça, de amor e de caridade
Q.873: O sentimento da justiça está na natureza, ou é resultado de idéias adquiridas?
“Está de tal modo em a natureza, que vos revoltais à simples idéia de uma injustiça. É fora de dúvida que o progresso moral desenvolve esse sentimento, mas não o dá. Deus o pôs no coração do homem. Daí vem que, freqüentemente, em homens simples e incultos se vos deparam noções mais exatas da justiça do que nos que possuem grande cabedal de saber.”
Q.875: Como se pode definir a justiça?
“A justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais.”
Q.886: Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?
“Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”
(O Livro dos Espíritos – Allan Kardec)
Direito e Justiça deveriam ser sinônimos perfeitos, ou seja, deveriam expressar a mesma virtude, pois, se aquele significa “o que é justo”, esta se traduz por “conformidade com o direito”.
Lamentàvelmente, porém, aqui na Terra, Direito e Justiça nem sempre se correspondem, porque, ignorando ou desprezando a Lei de Deus, outorgada para a felicidade universal, a justiça humana há feito leis prescrevendo como direitos umas tantas práticas que favorecem apenas os ricos e poderosos, em detrimento dos pobres e dos fracos, o que implica tremenda iniquidade, assim como há concedido a alguns certas prerrogativas que de forma nenhuma poderiam ser generalizadas, constituindo-se, por conseguinte, em privilégios, quando se sabe que todo privilégio é contrário ao direito comum.
O escravismo, com todas as crueldades que lhe eram peculiares, p. ex., foi por muito tempo consagrado como coisa legal, isto é, um “direito” assegurado pelos sistemas sociais vigentes por mais de um milênio; o assassínio igualmente tem sido utilizado, em inúmeros casos, qual um “direito”, não apenas pelos indivíduos como pela própria Sociedade; o “jus primae noctis”, na Idade Média, dava ao barão feudal “direito” de deitar-se com a noiva dos seus servos antes que ela se juntasse ao noivo; no século 17, quando era costume todos os homens portarem um instrumento mortífero, pois tinham que estar preparados para matar ou ser mortos, aos nobres cabia o “direito” de se armarem com espadas de um metro de comprimento, enquanto os plebeus só podiam usar punhais de até 30 centímetros; nações houve e talvez ainda haja, cuja governança, por “direito” expresso em suas constituições, só podia ser exercida por alguém de determinada confissão religiosa, com exclusão das demais; o exercício de cargos eletivos, em muitos países, era ou ainda é um “direito” civil reservado exclusivamente aos proprietários; regimes de trabalho especiais, aposentadorias especiais, gratificações especiais, imunidades especiais, isenções especiais, licenças especiais, etc, são outros tantos “direitos” sacramentados por leis, em um e outro hemisfério.
Ora, esses modos de agir, conquanto baseados na jurisprudência terrena, não se harmonizam com a verdadeira justiça, a justiça natural, que o divino mestre Jesus sintetizou na máxima: “Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles.” (Mat. 7:12)
Se a aplicássemos em nossas relações sociais, em toda e qualquer circunstância, jamais erraríamos. Ninguém deseja para si senão o que é agradável, bom e útil; assim, se cada qual procedesse com seus irmãos de conformidade com aquela regra, é evidente que só lhes faria o bem, resultando daí a extinção do egoísmo, que é a causa mâter de quase todos os atritos e conflitos que infelicitam a Humanidade.
“Em todos os tempos e sob o império de todas as crenças — comenta Kardec (capítulo 11º, questão 876) — o homem sempre se esforçou para que prevalecesse o seu direito pessoal. A sublimidade da religião cristã está em que ela tomou o direito pessoal por base do direito do próximo.
Talvez nos digam que se os homens atribuírem a si mesmos, indistintamente, iguais direitos, a hierarquia de poderes será desfeita e então o caos, e não a ordem, é que prevalecerá no complexo social.
Respondemos com as vozes do Alto: “Os direitos naturais são os mesmos para todos os homens, desde os de condição mais humilde até os de posição mais elevada. Deus não fêz uns de limo mais puro do que o de que se serviu para fazer os outros, e todos, aos seus olhos, são iguais. Esses direitos são eternos. Os que o homem estabeleceu perecem com as suas instituições. Demais, cada um sente bem a sua força ou a sua fraqueza e saberá sempre ter uma certa deferência para com os que a mereçam por suas virtudes. É importante acentuar isto, para que os que se julgam superiores conheçam seus deveres, a fim de merecer essas deferências. A subordinação não se achará comprometida, quando a autoridade for deferida à sabedoria”.
Com efeito, não há razão para temer-se que o reconhecimento da igualdade dos homens possa prejudicar a organização social.
Muitos costumes do passado, que hoje consideraríamos bárbaros e monstruosos, foram julgados “direitos” naturais, conformes aos códigos da época, e sua supressão, ao invés de arruinar a sociedade, vem-na tornando cada vez mais perfeita, aproximando-a, pouco a pouco, do estado ideal.
À medida que os homens progridem em moralidade, melhores concepções vão tendo acerca de tudo, de sorte que, quando o Cristianismo se haja implantado, de verdade, em cada coração, o Direito e a Justiça confundir-se-ão finalmente, fundamentando-se numa só norma: “ama a teu próximo como a ti mesmo”, pois em tal consiste “toda a Lei e os Profetas”.
Ante o Amor
Quando te encontres semi-vencido pelos problemas que comumente assaltam o homem na trilha da evolução, já experimentando o ressaibo da amargura e do desencanto, ou quando à borda do resvaladouro, na direção do crime e da alucinação, antes da decisão aconselhada pela ira ou pela violência, perguntes ao Amor a trilha que deves tomar e o Amor te responderá com sabedoria como prosseguires, não obstante o céu nublado e os caminhos refertos pela perplexidade e pelo pavor.
Talvez não consigas alcançar a meta da paz que persegues imediatamente nem a logres em caráter mediato-próximo.
No entanto, não desfaleças na tentativa.
O amor te faltará em mansuetude e brandura, paz e esperança.
Todo esse conjunto de valores exigir-te-á grande esforço e aguardarás tempo, a fim de se materializarem, modificando o contingente das realizações habituais.
Apesar da aspereza que a decisão amorosa te exigirá, fruirás desde o início da decisão uma tranqüilidade que decorre da consciência liberada das amarras infelizes do personalismo enfermiço quanto do egoísmo perturbador.
No Amor — Causa primeira de todas as coisas porqüanto a Criação é um ato de amor — se iniciam e se findam todas as ambições, encontrando-se respostas para todas as situações da problemática moral e humana.
Ante. o Amor, a dificuldade torna-se desafio,
a dor faz-se teste,
a enfermidade constitui resgate,
a luta se converte em experiência,
a ingratidão ensina,
a renúncia liberta,
a solidão prepara
e o sacrifício santifica...
Naturalmente o Amor impõe necessidades e valores retributivos, quiçá desconhecidos no momento da doação.
Quando, porém, alguém recebe o magnetismo do amor, sem que o perceba, vitaliza-se, acalma-se, renova-se e ama. Nem sempre devolve àquele que lhe doa a força do amor, não obstante retribui a dádiva esparzindo-a e dirigindo-a a outrem. E isto é o mais importante.
Talvez seja necessário que o teu amor atinja o martírio para alcançar o fim a que se destina. Entretanto, se te negas à doação total, eis que não amas, verdadeiramente, apenas impões transitório capricho que desejas receber transformado num amor que te irrigue e sustente, sem que o mereças, porém.
Desse modo, recorda Jesus, em qualquer circunstância ou posição em que te encontres, e, à semelhança d’Ele, consulta e responde com amor, não fazendo ao teu próximo o que não gostarias que este te fizesse.
O Amor tudo resolve. Experimenta-o desde agora.
Confiança e Amor
Se confias na Providência Divina não te agastes em face das incompreensões que te surpreendem no ideal do bem a que te dedicas.
Possivelmente encontrarás pessoas que desfilam na Terra cercadas de bajuladores e ovacionadas pelo entusiasmo geral, sem que, no entanto, se dediquem a qualquer mister de enobrecimento. Por isso mesmo são elogiadas, por outros equivocados, que se demoram na inutilidade.
Se te reservas a alegria do serviço nobre, não esperes resultados favoráveis aos teus empreendimentos superiores.
Certamente há muitos que coletam provisões de simpatia e entusiasmo com facilidade, não obstante permaneçam insatisfeitos.
Se preferes a dedicação exclusiva à Seara do Cristo, defrontarás empecilhos e mal-querenças onde esperavas que medrariam amor e fraternidade.
É provável que noutros campos de ação compareçam sorrisos e gentilezas de caráter exterior, porqüanto os homens são sempre homens — nem anjos nem demônios — lutando contra as imperfeições onde quer que se encontrem.
Na Terra, a felicidade somente é possível quando alguém se esquece de si mesmo para pensar e fazer tudo que lhe seja possível em favor do seu próximo.
A felicidade perfeita, se existisse, no mundo, se diluiria ante uma criança infeliz, um enfermo ao abandono, um velhinho relegado ao esquecimento...
Não pretendas, portanto, ouropéis enganosos, cortesias especiais, reconhecimento imediato, favoritismo ou, mesmo, entendimento fraternal...
Como não é correto cultivar pessimismo, não é proveitoso sustentar ilusão de qualquer matiz.
Se confias na Misericórdia de Deus, trabalha sem desfalecimento e ama em qualquer circunstância, sem distinção nem preferências, recordando Jesus, que embora Modelo Impar, não encontrou, ainda, no mundo o entendimento nem a aceitação que merece.
Auxílio a Sofredores
Diante deles, os sofredores de qualquer espécie, policia a conduta no ato de ajudá-los.
Tragam-te ao conhecimento problemas econômicos, morais ou de saúde, não te revistas de falsa superioridade, assumindo a aparência de benfeitor, com que poderás constrangê-los, adicionando às já existentes, novas aflições.
Cada dificuldade se resolve mediante recurso específico.
Não os padronizes, igualando suas dores somente porque façam parte da imensa massa de padecentes da Terra.
Este deseja externar aflições e receber amizade Aquele anseia por socorro imediato através do pão ou do medicamento e, talvez, no desespero em que se vê colhido, não disponha das palavras próprias, fazendo-se impertinente, rebelde, inquieto.
Esse, ferido nos dédalos da alma por dardos venenosos, está prestes a sucumbir e necessita de um amigo.
Aqueloutro, desarvorado por inquietações psíquicas e emocionais, perdeu o contato com a realidade objetiva e desvaira, ansiando por alívio.
Propõe-te solidariedade e alcança-os com os teus sentimentos fraternos.
Não os objurgues, amargando o pão que por acaso disponhas para ofertar-lhes.
Nada lhes exijas, em face da moeda ou da palavra que lhes distendas.
Se te escassearem meios externos com que lhes diminuas as penas, recorre ao auxílio espiritual sempre valioso: a prece, a água fluidificada, o passe para a restauração das suas forças.
Sempre possuis algo para doar.
Há quem ajude avinagrando a linfa da generosidade.
Muitos confortam e reprocham simultaneamente.
Diversos socorrem e advertem, chamando a atenção para a dádiva que dispensam.
Uns abrem os braços à dor, mas não ocultam o
enfado, a saturação logo nos primeiros tentames, is to quando não exteriorizam o azedume e a censura rude.
Estão na provação hoje, os que não souberam utilizar-se dos bens da vida com a necessária correção no passado.
Sofrem os que iniciam o processo evolutivo por meio da dor-burilamento.
Batem-te à porta, buscam-te o socorro, pedem-te compreensão. Não lhes recuses o amor.
Jesus recomendou-nos com a Sua autoridade inconteste: “Batei e abrir-se-vos-á; buscai e achareis; pedi e dar-se-vos-á.”
Se esperas encontrar à tua disposição a Misericórdia Divina, amanhã, sê, agora, o mensageiro dela em relação aos que te batem à porta, te pedem e te buscam, executando o mais meritório esforço na caridade: dar e dar-se sempre sem limite.
Referências Bibliográficas
1. O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, Q. 614 a 892.
2. As Leis Morais, Rodolfo Calligaris.
3. Leis Morais da Vida, Divaldo Pereira Franco.